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A montanha que pariu um rato

Publicado por Caio Gottlieb em

Por Nilso Romeu Sguarezi*

Fato incontroverso que os mais de oito milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro que representam 4% da superfície deste planeta é que ainda temos a maior reserva florestal do mundo. Nossas reservas minerais são incalculáveis, nossos rios de água doce são os maiores e melhores em volume de água, nosso litoral também é colossal, além de não termos vulcões, terremotos, furacões e, desde que os portugueses aqui chegaram a 500 anos, o mundo civilizado ficou sabendo e hoje estamos provando na prática que “aqui, em se plantando, tudo dá”.

Em resumo, dos 510,3 milhões km2 do planeta, menos os 360,63 milhões km2 (70,69%) dos mares e oceanos, dos restantes 149,67 milhões km2 (29,31%) de terras, temos nossos 8.513 milhões kms como um dos cinco maiores territórios.

Por que então não somos uma potência e nação desenvolvida?

Algumas causas podem ser colocadas, mas a principal foi a nossa acelerada e gradativa queda na qualidade da educação pública. Tudo começou depois do golpe militar que derrubou o império. Isso está bem claro e especialmente neste início do terceiro século da nossa independência, salta aos olhos a falta de preparo dos nossos últimos governantes. Virou moda e voz corrente nesta nação o trágico destino de os brasileiros não terem outra opção nas eleições presidenciais, senão aquela, de justificar: votei no menos ruim.

Das 41 pessoas que já estiveram no comando deste país, e 2 foram membros da nobreza que lhes deu educação aprimorada 39 homens do povo como presidentes da república.

Quanto aos imperadores podemos dizer que eram pessoas preparadas para exercer o comando, tanto que Don Pedro I, declarou a Independência brasileira em 1822, livrando-nos do jugo de colônia portuguesa e governou até 1831, quando abdicou para seu filho DOM PEDRO II. Este assumiu com apenas 15 anos de idade e magistralmente dirigiu a nação durante os 50 anos de seu reinado. Sem dúvidas foi o brasileiro mais bem preparado de toda a nossa história política. Falava dezenas de línguas, amante da ciência e das artes, era mundialmente respeitado pela sua cultura e sabedoria. Executou obras e planejou outras – que se a república tivesse dado continuidade – hoje não estaríamos neste crônico subdesenvolvimento. Aboliu a escravatura e criou condições de educação que, na época, apenas os Estados Unidos, aqui nas Américas, nos superavam. Hoje nossa educação pública é lastimável e ainda com elevado nível de analfabetismo. Estamos nos últimos lugares do ranking mundial de educação.

Dos presidentes da república 22 eram advogados, 15 generais, 1 capitão, 2 economistas, 1 sociólogo, 1 médico, 1 professor e 1 sindicalista. Com a república só aumentou a instabilidade política que ainda não conseguiu criar verdadeiros partidos políticos, embora seja crescente o número destas organizações que passaram a consumir grande parte do orçamento federal, via os tais fundos partidários e eleitorais, que crescem a cada eleição.

Mais claro que nunca é que foi exatamente nestas duas últimas décadas que tivemos governantes despreparados para o exercício do poder, vindos da escola pública.

“No Brasil, a educação se resume a uma situação em que uns fingem que ensinam, outros fingem que aprendem, e tudo termina em diploma”, disse recentemente o filósofo Eduardo Giannetti. (https://noticias.uol.com.br/ultimasnoticias/deutschewelle/2022/06/29/brasil-ocupa-ultimo-lugar-em-educacao-entre-63-paises.htm?cmpid=copiaecola)

Verdadeira ironia que enquanto o nosso sistema público de ensino gasta muito, menor tem sido o seu rendimento pela persistência do nosso conhecido analfabetismo funcional. Ao contrário acontece com a escola privada que em apenas algumas décadas possibilita a iniciativa privada começar com uma simples creche, para se transformar numa universidade. Dos muitos exemplos da iniciativa privada que temos espalhados pelo país, constata-se que a educação privada virou um ótimo negócio para seus proprietários.

“Brasil ocupa último lugar em educação, entre 63 países – A atual miséria educacional brasileira é possivelmente sem precedentes. Mas não se deve só à incompetência do governo Bolsonaro: o desprezo pela educação está profundamente arraigado na sociedade – e compromete o futuro.

Desde 1989 o International Institute for Management Development (IMD), sediado na Suíça, publica um ranking anual de competitividade ao entrevistar empresários, investidores e gerentes de 63 países sobre diversos critérios sobre educação.

Uma celebre fábula romana contada por Esopo na Grécia 600 anos antes de Cristo, vale ser lembrada nestes dias em que uma enorme expectativa se formou em todo do esperado anuncio do corte de gastos do governo federal com seus 37 ministérios e estatais voltando a dar prejuízos.

A lenda dizia que uma montanha rugia tanto e tão forte, que todos esperavam que dela saísse uma coisa grandiosa, mas ao final do parto foi apenas um pequeno ratinho que apareceu.

Qualquer semelhança com o resultado do anúncio “dos tais cortes de gastos” foi a grande decepção. Mais uma vez foi utilizada a propaganda enganosa do governo que na televisão, simplesmente exibiu um vídeo editado com imagens bem apropriadas e preparadas para mais uma reeleição do atual presidente.

Tamanha decepção não poderia ser diferente e nossa moeda foi pro espaço. Novo recorde do preço do dólar que ultrapassou os seis reais e nossa bolsa despencou a níveis que comprovam a fuga dos investidores.

Mas não foi só. Pelo ativismo do judiciário outro estardalhaço na imprensa para radicalizar ainda mais a nossa instabilidade política e insegurança jurídica. Pelo judiciário mais acusações da tentativa de golpe (que não houve) e uma misteriosa trama para a morte por envenenamento de autoridades.

Como disse um amigo, precisam nos esclarecer se os golpistas envenenadores, copiaram o método russo ou dos coreanos do norte, para eliminarem por envenenamento os seus adversários.

Golpe de lá, golpe de cá, e assim vamos vivendo a via crucis de não termos mais uma constituição respeitada pelos que se atribuem donos do poder, mesmo sem votos.

A hora é de usarmos a inteligência e partirmos para conseguir novas regras do jogo democrático com uma CONSTITUINTE EXCLUSIVA, em que brasileiros sem as amarras partidárias e ideológicas desta estapafúrdia radicalização, possam escrever nossa LEI MAIOR para saímos deste doentio subdesenvolvimento a que estaremos condenados sem um efetivo e eficiente ensino público.

*NILSO ROMEU SGUAREZI, advogado, ex-deputado constituinte de 1988, defensor da tese da CONTITUINTE EXCLUSIVA, pelo voto distrital para eleição dos constituintes e INELEGIBILIDADE DE 10 ANOS, para quem for mandado para Brasília a escrever a LEI MAIOR.

Categorias: OPINIÃO

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