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Dançando à beira do abismo

Publicado por Caio Gottlieb em

Para o distinto leitor entender melhor o delicado momento que vive o Brasil diante dos perigos provocados pela gestão temerária, irresponsável e inconsequente das contas públicas, cenário que o fictício plano de “cortes de gastos” anunciado pelo Palácio do Planalto só fez agravar, relembro os vaticínios listados na entrevista concedida alguns dias atrás ao Estadão pelo respeitado economista José Roberto Mendonça de Barros.

Expondo suas opiniões com a imparcialidade e a liberdade de quem não possui vínculos com nenhuma das correntes ideológicas que polarizam a política nacional, ele mostrou-se alarmado com os rumos impostos à economia pelo presidente Lula.

Para Mendonça de Barros, chegava a ser motivo de surpresa, àquelas alturas, que o governo ainda tivesse dúvidas sobre a necessidade de implementar rapidamente um forte ajuste fiscal e continuasse protelando a decisão, aumentando as incertezas dos investidores e agentes econômicos.

Com a sabedoria dos bons professores de economia, ele avisou: “Existe o caminho de buscar o grau de investimento, que está sendo apontado pelo ministro Fernando Haddad, e existe o outro caminho – que já deu errado e não tem como dar certo. E isso deixa a gente estupefato. Eles já deveriam saber para onde ir”.

Suas declarações praticamente anteviram o que estava por vir: “Estou bastante preocupado com o andar da carruagem. E o centro disso, que eu acho que todo mundo concordaria, é a piora das expectativas. O que mais preocupa é que a inflação encostou em 5%. Não é que ela encostou no teto da meta; ela encostou em 5%. Estamos no vértice de transformar a expectativa em fato consumado. Essa é a maior preocupação”.

E explicou o motivo maior de sua apreensão: “É muito simples. Eu vejo os clientes não financeiros: a primeira puxada do câmbio, ninguém põe no preço do produto, porque avalia como temporária. Mas, à medida que isso vai ficando, o câmbio entra nas tabelas de preços. Eu estou vendo isso acontecer”.

Outros trechos da conversa:

“Minha preocupação é que realmente nós estamos chegando ao ponto em que a profecia se autoconfirma. Se tinha alguma dúvida, o resultado da eleição americana e o famoso ‘Trump trade’, que já vem sendo antecipado muito antes da eleição, mostra que, de fora, vem uma bucha de proporções razoáveis para países como o Brasil. Não tem como achar que daí vem qualquer coisa boa pra nós”.

“A eleição de Trump não é boa para o mundo, não é boa para o Brasil. Porque os juros vão subir e o dólar vai se valorizar. Mais uma vez o mercado americano funcionará como um aspirador, vai chupar dinheiro e recursos no mundo inteiro. E aí nós voltamos para onde começamos: a inflação. A inflação entrou no radar de novo. Essa é a mensagem mais preocupante, número um”.

“Depois, vem a tendência à desaceleração da economia brasileira no ano que vem, que eu acho muito forte. A gente tem um estímulo menor ao crescimento do exterior. Menor preço de commodities. Do exterior, haverá menos estímulo”.

“A taxa de juros vai seguir o seu curso. A pancada no crédito vai ser enorme, e as pessoas estão subestimando isso. Não tem como escapar”.

“O caminho para atenuar isso é o pacote fiscal. É a bola da vez mesmo. Não tem escolha, porque, se não tiver isso, não tem chance de melhorar um pouco da expectativa – e aí não cai o câmbio, não cai a questão da inflação, e a gente vai para uma situação muito complicada”.

“Se o pacote frustrar, não tenho dúvida nenhuma de que a gente pode ter o dólar a R$ 6 e inflação a 5%. Ele já está lá, a rigor, a valor presente. É muito mais perigoso o negócio da inflação do que parece. Nós tínhamos 3,6% de inflação há poucos meses”.

E eis que ocorreu justamente o que Mendonça de Barros previa. Pouco mais de uma semana depois dessa entrevista, surgiu, enfim, o aguardado plano de ajuste fiscal, que se revelou um retumbante fiasco.

Era esperada uma proposta consistente e verdadeira de corte de despesas, mas em seu lugar veio uma cascata populista de promessas vazias – que não enganaram ninguém, muito menos o mercado –, para tentar manter incólumes as chances de reeleição de Lula em 2026, mesmo que isso custe caro à nação.

Eram esperadas medidas técnicas, duras e impostergáveis, imprescindíveis para colocar a coisa nos eixos, mas veio um amontoado desconexo de meras boas intenções. E, como a gente sabe, de boas intenções o inferno está cheio.

E o resultado, como prognosticou o velho e experiente economista, esta aí: dólar ultrapassando (pela primeira vez na história) a barreira dos 6 reais, ameaça de descontrole inflacionário com a taxa já rondando os 5%, juros caminhando para subir de 11,25% para 12% ainda este ano, tudo isso levando ao aumento do custo de vida, que atingirá, principalmente, os bolsos dos brasileiros mais pobres – dos quais o PT se diz protetor.

Um desastre completo.

Sem contar que, correndo por fora, a dívida bruta do Brasil superou R$ 9 trilhões, registrando mais um recorde histórico do atual governo petista.

Em suma, a sanha gastadora e perdulária do lulopetismo armou a tempestade perfeita para mergulhar o país numa crise sem precedentes, prevista em uma célebre citação de Margareth Thatcher: “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”.

Vai lá, Lula, convida a turma da Faria Lima pra tomar uma cervejinha no boteco e resolve logo essa encrenca. Afinal, você é bom de papo.

Categorias: OPINIÃO

1 comentário

Simone Rodrigues · 02/12/2024 às 08:57

A turma da Faria Lima não tem a mínima preocupação com o povo.

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