É uma barbaridade
Lembra que o governo federal anunciou – com todo estardalhaço, é claro – que daria ajuda financeira emergencial para os agricultores gaúchos recuperarem suas lavouras destruídas pela catastrófica enchente que assolou o Rio Grande do Sul seis meses atrás?
Pois saiba que esse dinheiro, que os ministérios da Agricultura e de Apoio à Reconstrução prometiam liberar rapidamente, ainda não chegou até hoje para os mais afetados pela tragédia climática.
Estima-se que quatro em cada dez produtores rurais, espalhados por 450 dos 497 municípios do Estado, sofreram perdas devastadores em suas propriedades.
Coordenadora do SOS Agro, movimento criado em Porto Alegre por entidades do setor, Graziele de Camargo descreve o drama: “Não há como plantar sem dinheiro. Temos produtores que estão tentando fazer uma ‘planta’ de qualquer maneira, sem adubo, sem sementes de qualidade, sem tecnologia e muito menos inovação. Não temos reconstrução de solo, e foi falado que haveria uma linha de crédito para isso. Existem, sim, muitos anúncios, mas só queremos saber onde está o dinheiro anunciado. Quem ficou com esses recursos?”
Porta-voz de um grupo de 300 agricultores que foram dias atrás a Brasília pedir socorro ao Congresso Nacional, Celso Girotto conta que “você chega no banco e ninguém sabe dizer nada sobre a ajuda financeira. Em Bagé, os gerentes pediram que trancássemos a agência e fizéssemos manifestações para chamar a atenção do governo. Não fizemos. Acreditamos nas promessas. O governo esteve lá, viu, ouviu-nos e se comprometeu a resolver. Mas os recursos não chegaram. A época de plantar foi passando, muitos nem vão mais plantar.”
Luís Fernando Pires, da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, relata que “dos 20 bilhões de reais solicitados ao governo a título de crédito emergencial para os agricultores liquidarem dívidas com os bancos, apareceram só 400 milhões. Em cinco minutos acabou o dinheiro. E todos sabem que, nas condições impostas, os produtores não vão ter como pagar em quatro anos.”
Como se tudo isso não bastasse, tem ainda a grave situação do solo lamacento, que precisa ser restaurado para plantio, e isso não custa pouco: 700 mil reais por 100 hectares, nos cálculos da Embrapa.
Sem saída, desalentados, desesperançados e abandonados à própria sorte, muitos produtores gaúchos já estão se mudando de mala e cuia para recomeçar a vida nas férteis terras do vizinho Uruguai.
Ainda bem que não está faltando grana para custear as nababescas viagens internacionais de Lula e Janja, para patrocinar os shows dos artistas amigos da primeira-dama e para cobrir o rombo bilionário das empresas estatais, entre outras despesas fundamentais para garantir o desenvolvimento social e econômico do Brasil.
Afinal, governar é eleger prioridades.