Quem abriu a caixa de Pandora?
Nenhuma pessoa no pleno uso de suas faculdades mentais vai achar que a única forma de conter a escalada autoritária de alguns integrantes do Supremo Tribunal Federal é detonar tudo lá dentro, como quis fazer o homem-bomba que acabou se explodindo sozinho na noite desta quarta-feira (13), em Brasília, diante do prédio da Corte.
Foi um gesto extremado, insensato, absurdo e inaceitável. E ponto final.
No discurso que proferiu para repudiar o ato tresloucado, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, saiu em busca das origens da polarização enraivecida que divide o país e leva um homem a tirar a própria vida, ao questionar: “Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência?”.
Bastante oportuna, ainda que um tanto poética, a indagação de Barroso remete a um episódio da mitologia grega que, ao longo do tempo, se tornou uma metáfora usada para caracterizar ações que, menosprezando o princípio da precaução, desencadeiam consequências maléficas, terríveis e irreversíveis.
Conta a história que Pandora, a primeira mulher da Terra, criada por ordem de Zeus, recebeu dele uma caixa como presente de casamento, mas foi alertada para jamais destampá-la.
Mas a vontade de abri-la superou qualquer cautela: coisas horríveis voaram para fora, como ganância, inveja, ódio, dor, doença, fome, pobreza, guerra e morte.
Hoje em dia, ela continua sendo aberta, não por pessoas desavisadas, mas por personagens que prestam serviços em nome da ciência, da política, da economia e da justiça.
Mais do que ninguém, o ilustre magistrado sabe que a caixa de Pandora brasileira foi destampada ali mesmo, no STF, quando Suas Excelências decidiram implodir a Operação Lava Jato, começando pela descondenação de Lula e de outros proeminentes membros – muitos deles réus confessos – da quadrilha que desviou dezenas de bilhões de reais da Petrobras, e agora prossegue com a anulação dos processos que comprovavam o envolvimento de grandes empresas na roubalheira e a suspensão das multas milionárias a elas aplicadas.
Aos brasileiros de bem, estupefatos, indignados e revoltados em ver a injustiça triunfar, em assistir, impotentes, a Justiça garantindo a impunidade da bandidagem de alto coturno, restou expressarem sua aversão à suprema Corte com críticas contundentes nas redes sociais e nas manifestações de protesto que, sempre que convocadas, enchem as ruas do país.
Existem meios legais e constitucionais de restaurar a democracia no Brasil e restabelecer o equilíbrio entre os três poderes. Nada justifica um atentado contra quem quer que seja.
Mas é imprescindível deixar claro onde foi chocado o ovo da serpente.
1 comentário
EDUARDO ROSSONI PYDD · 16/11/2024 às 18:01
Assino embaixo