Ruim com ele, pior sem ele
Seria um exagero dizer que foi recebido com festa o anúncio da volta, em futuro próximo, da cobrança do pedágio nas estradas federais que cruzam o Oeste do Paraná, incluindo agora também trechos de vias estaduais.
Afinal, ninguém gosta de pagar a polêmica tarifa, mesmo quando seus benefícios são palpáveis e justificam o desembolso, até porque não deixa de ser um imposto a mais em um país já penalizado pela maior carga tributária do mundo.
De qualquer modo, ainda que não tenha havido comemorações efusivas, é fato que repercutiu muito bem nos meios empresariais e políticos da região a recente publicação do edital do lote 6 do novo programa de concessões rodoviárias do Paraná, que vai a leilão no dia 19 de dezembro na Bolsa de Valores de São Paulo.
Previsto inicialmente para 2025, o pregão foi antecipado pelo Ministério dos Transportes a pedido do governo paranaense, que, por sua vez, atendeu ao clamor de entidades representativas do agronegócio, preocupadas com o inevitável colapso que se avizinha no fluxo de escoamento de grãos e contêineres do principal polo produtivo do Estado rumo ao Porto de Paranaguá, diante do crescente congestionamento de veículos e do avanço da deterioração do leito asfáltico das estradas utilizadas na rota.
Obviamente, os projetos para aumento de capacidade e para melhoria das condições de trafegabilidade que devem resolver o problema, seja através de duplicações, construções de faixas adicionais, contornos urbanos ou adequações de traçados, não serão concretizados no curto prazo, como num passe de mágica.
Essas e outras obras, que contemplarão mais de 660 quilômetros de rodovias federais e estaduais a serem concedidos por três décadas à iniciativa privada, demandando investimentos de 20 bilhões de reais, só começarão a sair do papel entre o terceiro e o nono ano do contrato.
Urge, portanto, que se defina o quanto antes a concessionária gestora do lote, que compõe o mais estratégico corredor rodoviário do Paraná, abrangendo ligações com a Tríplice Fronteira e com outras regiões do Estado, por onde são transportados mais de 90% da nossa produção agroindustrial, para que não se perca mais tempo e se possa, ao menos, evitar um agravamento dos elevados custos logísticos que tiram a competividade das empresas paranaenses tanto no mercado interno como nos destinos internacionais.
Precisamos, além disso, encarar a realidade: o pedágio é um daqueles males necessários. Falar que as gigantescas necessidades de infraestrutura do Brasil podem ser equacionadas somente com recursos públicos é pura demagogia.
Nem os países mais ricos e desenvolvidos conseguem executá-las sem o aporte de capital privado, remunerado pelo pedágio. Se houvesse outra solução menos impopular, eles já a teriam adotado.
É importante lembrar, aliás, que existem alguns riscos latentes no meio do caminho, como a possibilidade de que haja pouca disputa no pregão, desestimulando maiores descontos na tarifa básica.
Foi o caso do leilão do lote 2, compreendendo rodovias das regiões de Curitiba, do Litoral, dos Campos Gerais e do Norte Pioneiro, realizado em setembro de 2023, em que apareceu um único licitante.
Há também o temor, de potencial nada desprezível, de que o negócio não atraia nenhum interessado e a concorrência dê deserta.
A insegurança jurídica somada a um governo que vive hostilizando os empresários não faz do Brasil um lugar dos mais aprazíveis e acolhedores para os grandes investidores nacionais e estrangeiros.
Mas, como aconselha o versículo bíblico, cada dia com a sua agonia.
Mantenhamos, pois, a esperança de que tudo vai dar certo.
Sofrer por antecipação é sofrer duas vezes.