Enquanto isso, na calada da noite…
É um ledo engano pensar que Lula possa estar disposto a entregar mais do que já entregou aos senadores e deputados federais, seja em ministérios ou cargos de segundo e terceiro escalões, para ampliar sua base de apoio no Congresso Nacional.
Mesmo dispondo de esquálida minoria no parlamento, a verdade é que o petista, nesses dois anos de mandato, não sofreu reveses acachapantes e também não teve grandes dificuldades para aprovar projetos considerados essenciais para sua administração, conseguindo emplacar até algumas propostas ideológicas e populistas para satisfazer o ideário esquerdista.
O fato é que, ao contrário do que muita gente imagina, Lula não depende tanto dos parlamentares para governar. Aliás, a rigor, não depende quase nada.
Quando ele diz encarar como circunstância natural do jogo político a derrota em uma votação aqui e outra acolá, é mera encenação para manter as aparências de que as instituições do país – executivo, legislativo e judiciário – estão funcionando normalmente, cada qual dentro de suas prerrogativas constitucionais.
Na realidade, o presidente ungido pelas urnas eletrônicas não anda nem um pouco preocupado em comprar mais apoiadores no Congresso, mesmo porque custa caro e nem sempre há garantia de fidelidade absoluta.
Ele está empenhado é em aumentar sua influência nas altas instâncias da Justiça, que hoje ditam as ordens no país.
Sua mais recente operação nesse sentido foi o jantar que ofereceu na Granja do Torto, dias atrás, aos ministros do Superior Tribunal de Justiça a título de confraternização (o que por si só já caracteriza uma abjeta promiscuidade), sem disfarçar o primordial objetivo de aplainar o terreno para, discretamente, induzir os magistrados a colocar na lista tríplice para uma das vagas abertas na Corte o nome do desembargador Rogério Favretto, do TRF-4, seu candidato do coração porque em 2018, em pleno domingo, concedeu uma liminar, depois revogada, para soltá-lo da prisão em Curitiba.
Chegou a hora de retribuir a gentileza e aparelhar o poder judiciário com mais um parceiro leal, que a qualquer momento poderá lhe ser útil.
Convém registrar, a propósito, que Lula ainda não necessitou usar todo o poderio de fogo que dispõe no Supremo Tribunal Federal, onde, dos 11 ministros, ele conta com sete votos petistas e mais dois aliados de ocasião para, no frigir dos ovos, impor sua vontade ao Congresso Nacional.
Obviamente, Lula não vai gastar seus cartuchos em assuntos menos relevantes. Mas, quando se tratar de uma questão crucial para o seu governo, sua “bancada jurídica” estará a postos para atendê-lo.
Que ninguém se iluda: a seu tempo, tudo que os deputados e senadores negarem a Lula, o STF lhe concederá; e tudo que o Congresso tirar de Lula, o STF devolverá.
A situação atual do Brasil está resumida em uma declaração contundente do renomado cientista político Paulo Kramer em recente entrevista ao Estadão: “Nós estamos vivendo o que eu chamo de golpe em câmera lenta. O Supremo hoje pode tudo, porque os outros poderes acham que ele pode tudo. Ou acham que não podem fazer nada contra ele. Porém, o ‘ponto de virada’ está próximo e deve resgatar o equilíbrio entre os Poderes da República”.
Disse mais: “Gradativamente, a opinião pública foi se conscientizando de que o Poder Judiciário, principalmente o STF, está há muito tempo exorbitando do seu papel constitucional. Ele precisa voltar ao seu quadrado, para que os poderes sejam efetivamente independentes, porém funcionem de forma harmônica”.
Só falta saber quem vai colocar o guizo no pescoço do gato.
1 comentário
Olavo Arsenio Fank · 28/09/2024 às 18:54
Parabéns pela síntese…
Quem já navegou nos bastidores da (in) justiça (com letras minúsculas mesmo) sabe que o jogo de influên$$$ias é bruto.