A boa filha à casa torna
Para ser candidata a vice na chapa encabeçada por Guilherme Boulos, líder da facção urbana do MST que vai concorrer à prefeitura de São Paulo pelo Psol, a sexóloga Marta Suplicy, a convite de Lula, está de volta ao Partido dos Trabalhadores, sigla que ajudou a fundar e da qual desligou-se em 2015, quando ainda ocupava o cargo de senadora.
Ex-deputada federal, ex-prefeita da capital paulista, ministra do Turismo do primeiro governo Lula e ministra da Cultura do primeiro mandato de Dilma Roussef, ela encaminhou seu pedido de desfiliação divulgando uma ruidosa carta onde exprimia todo o seu horror diante das denúncias que pipocavam contra o PT com as revelações da pilhagem na Petrobras trazidas à tona pela Operação Lava Jato, e lamentava a reincidência da agremiação em casos de desvios éticos ao relembrar de forma indireta, nas entrelinhas, a roubalheira do Mensalão.
Vale a pena ler de novo alguns dos trechos mais eloquentes do manifesto em que Marta expressou sua mais profunda decepção com os malfeitos do PT:
“É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou, sendo certo que mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobrevieram novos episódios a envolver a sua direção nacional.
No meu sentir e na percepção de toda a nação, os princípios e o programa partidário do PT nunca foram tão renegados pela própria agremiação, de forma reiterada e persistente.
Para mim, como filiada e mandatária popular, os crimes que estão sendo investigados e que são diária e fartamente denunciados pela imprensa constituem não apenas motivo de indignação, mas consubstanciam um grande constrangimento.
Aqueles que, como eu, acreditaram nos propósitos éticos de sua carta de princípios, consolidados em seu programa e em suas resoluções partidárias, não têm como conviver com esta situação sem que esta atitude implique uma inaceitável conivência.
Hoje o PT se distanciou completamente dos fundamentos que há 35 anos nos levaram a construí-lo com entusiasmo e envolvimento.
Vivencio o mais difícil e o pior momento de minha vida política. Como membro do PT, encontro-me em situação absolutamente constrangedora na bancada e no Plenário do Senado. Tenho me furtado a discursar e emitir minhas opiniões por me negar a defender um partido que não mais me representa, assim como a milhões de brasileiros que nele um dia acreditaram. Situação sem sentido que não tenho mais condições de deixar perdurar”.
Resumindo em poucas palavras, Marta abandonou o lulismo alegando não ser possível, pelo menos naquela época, conviver com a corrupção.
Pelo visto, agora já é possível.