Amor bandido

União Europeia, Estados Unidos e mais dez países da América Latina, representando grande parte do mundo civilizado, declararam oficialmente que não reconhecem a vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela diante da impossibilidade de haver uma aferição imparcial e independente da contagem dos votos.

Já esperada em razão das fraudes escandalosas cometidas impunemente pelo regime bolivariano para se perpetuar no poder, a manifestação veio em resposta ao pronunciamento do Tribunal Supremo de Justiça, controlado por Maduro, de não apenas validar sua ilegítima reeleição, homologada preliminarmente pelo Conselho Nacional Eleitoral, igualmente dominado por partidários do governo, como também proibir a divulgação das atas das seções de votação.

A propósito, sobrou até um recado maroto e desafiador do presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodriguez, endereçado pessoalmente ao embaixador Celso Amorim, assessor especial de Lula encarregado de bajular tiranos esquerdistas, que vinha tentando mediar a crise com um pé em cada canoa.

Em sessão do parlamento, ao comemorar a decisão judicial, Rodriguez destacou que “é importante dizer que a sentença do TSJ não é apenas na Venezuela onde está a jurisdição superior da sala eleitoral, mas também no Brasil – ouviu, senhor Celso Amorim? –, no México, nos Estados Unidos e no mundo inteiro. Há uma jurisdição superior”, enfatizou.

Foi uma suprema humilhação impingida à diplomacia brasileira.

Tudo isso, enfim, só vem confirmar que o pleito realizado no dia 28 de julho foi uma mera encenação democrática urdida para ter como único resultado a recondução de Maduro ao cargo por mais seis anos.

O que o ditador não imaginava é que o candidato oposicionista Edmundo González, autorizado pelo CNE para enfrentá-lo na disputa por, aparentemente, não oferecer perigo, acabaria lhe impondo fragorosa derrota nas urnas.

Por outro lado, o grande mistério desse enredo novelesco é a vergonhosa postura do Lula, que, além de relutar em admitir que o velho aliado deu um belo golpe de estado, segue insistindo na ladainha de cobrar de Maduro a divulgação das atas eleitorais, mesmo sabendo que elas, sendo provas incontestes do triunfo da oposição, jamais aparecerão.

Aliás, é um caso a ser estudado a submissão de Lula aos desaforos e às traições de Maduro.

Recebido no ano passado com todas as honrarias no Palácio do Planalto, onde foi saudado por Lula como um paladino da democracia, Maduro fez duas promessas ao anfitrião: que a Venezuela teria eleições livres e transparentes e que começaria a pagar as dívidas do país com o Brasil, estimadas em 1,6 bilhão de dólares.

Só Lula acreditou que ele iria cumpri-las.

Nessa estranha relação com Maduro, o petista é a perfeita mulher de malandro: gosta de apanhar.