Foi buscar lã e voltou tosquiado

Revelações dos bastidores do episódio evidenciam que Sergio Moro foi atraído para uma perfeita cilada ao deixar o Podemos e filiar-se ao União Brasil acreditando, infantilmente, nas promessas de que teria uma estrutura maior para disputar o Palácio do Planalto.

Contou o jornalista Lauro Jardim em sua coluna n’O Globo que, uma semana após trocar de partido, Moro telefonou para Luiz Henrique Mandetta, com quem vinha mantendo diálogos políticos, para tentar articular uma sustentação à sua pré-candidatura à Presidência.

Na ligação, o ex-juiz assegurou ter o voto de Luciano Bivar (presidente do UB) para que seu nome fosse alçado à opção da terceira via pela sigla, mas alegou que precisava construir mais apoiamentos.

Do outro lado da linha, Moro ouviu do ex-ministro da Saúde que a aliança deveria ter sido costurada, obviamente, antes da mudança partidária e em conversas com caciques da agremiação.

“Vendo-se encurralado”, segue o relato de Jardim, “Moro rebateu que ainda tinha no cenário a possibilidade de concorrer ao Senado por São Paulo, seu atual domicílio eleitoral. Porém, novamente foi interpelado por Mandetta que alertou que as chapas ao Senado teriam de ser acordadas com Rodrigo Garcia e que Moro não havia conversado com o governador a respeito do assunto.”

Poucos dias depois, Bivar apoderou-se da pré-candidatura presidencial e jogou Moro definitivamente para escanteio.

Resumo da ópera: o ex-magistrado da Lava Jato deixou-se seduzir pelo falso canto da sereia e caminhou direitinho para a armadilha arquitetada por inimigos matreiros que, fingindo-se de aliados e admiradores, queriam, e conseguiram, tirá-lo das eleições deste ano.

Cego pela vaidade, ele não enxergou a trama maquiavélica que as raposas felpudas da política estavam urdindo e caiu na arapuca como um patinho.

O jogo não é para amadores.