Entre a cruz e a espada

É impossível dizer que o Peru tinha nestas eleições presidenciais a chance de escolher no segundo turno o candidato menos pior para dirigir seus destinos.

Diante das duas péssimas opções que restaram na fase decisiva da disputa, não havia pra onde correr, a não ser votar em branco.

Ou era Keiko Fujimori, condenada por corrupção e atualmente em liberdade condicional após passar alguns meses na cadeia, legítima herdeira da trajetória do pai e ex-presidente Alberto Fujimori, que está cumprindo 25 anos de prisão por diversos crimes, ou era Pedro Castillo, o líder sindical de extrema esquerda, que defende propostas que ele nem mesmo sabe explicar direito, mas que certamente vão arruinar de vez o país.

Eleito por ínfima margem de votos, ele assume o poder com a promessa de elaborar uma nova Constituição, controlar a imprensa, regular o mercado e nacionalizar setores estratégicos, como consta do ideário do seu partido, o Perú Libre.

Para se ter uma noção do que está à espera dos peruanos, eis os dez principais tópicos do programa de governo que Castillo, durante a campanha, se disse determinado a implantar:

1 – Criação de uma nova Constituição, que deve resultar na desmontagem do neoliberalismo e plasmar o novo regime econômico do Estado.

2 – Estatização dos setores de mineração, gás, petróleo, hidroelétricos comunicações, entre outros.

3 – Cancelamento de todas as dívidas públicas no país, depois de renegociar os valores iniciais.

4 – Regulamentação da imprensa, defendendo os legados de Lênin e Fidel Castro nessa matéria. O Peru Libre abertamente não defende a liberdade de imprensa.

5 – Controle dos salários: os salários dos empresários devem ser múltiplos dos salários dos operários, assim um empresário poderá ganhar muito bem. A ideia é que a diferença entre o salário do empresário e o do operário menos qualificado seja no máximo de vinte vezes.

6 – Geração de empregos pelo estado socialista, por meio da industrialização do país e a o avanço técnico do setor agrícola, entre outros, para garantir bem-estar a 65% dos peruanos de maneira direta e indireta.

7 – Apropriação pelo estado de 70% a 80% dos ganhos das empresas transnacionais.

8 – Revisão, regulação ou anulação dos tratados internacionais, que convertem o Peru numa colônia comercial, para sabotar outras potências econômicas contrárias aos interesses dos Estados Unidos.

9 – Declaração da independência latino-americana, com a convocação dos países vizinhos para estabelecer uma “zona não negociável” com os Estados Unidos

10 – Restrição à atuação de ONGs, braços do imperialismo, que não passam de “organizações de outros governos em nossos países”.

É o receituário comunista perfeito que fracassou fragorosamente no mundo inteiro e só serviu para afugentar capitais, desestimular investimentos, gerar insegurança jurídica, travar o crescimento econômico, gerar castas de dirigentes cleptocratas e criar nações miseráveis.

Fascinado especialmente pelo caráter autoritário e populista de algumas das medidas, o PT torceu com fervor pelo camarada Castillo e vem festejando ruidosamente sua vitória, saudada pelo ex-ministro José Dirceu como “o limiar de uma nova onda vermelha que varrerá o continente nos próximos anos”.

Que ninguém, aliás, duvide da aterrorizante premonição do petista, alicerçada na capacidade infinita dos eleitores latino-americanos, aí incluídos os brasileiros, de repetirem indefinidamente os mesmos erros já cometidos no passado.

Afinal, como sempre nos ensina uma das mais sábias Leis de Murphy, nada nunca está tão ruim que não possa piorar.