Um país de aposentados extorquidos e companheiros premiados
Gostaríamos de mudar de assunto.
Gostaríamos de passar logo para o próximo escândalo da fila — que não será difícil encontrar, diga-se.
Mas o caso do INSS não deixa.
Ele insiste. Insiste em sangrar. Insiste em revelar novas camadas de sordidez. Insiste em escancarar como, neste Brasil, até os velhinhos de contracheque minguado se tornaram alvo de um sistema que já perdeu qualquer vergonha de roubar.
São mais de R$ 6,3 bilhões tungados de aposentados e pensionistas por associações de fachada, travestidas de entidades representativas, que operaram durante anos com um requinte de cinismo digno dos melhores roteiros de crime institucional.
E o melhor — ou pior — é que o golpe vinha direto da folha de pagamento. Desconto automático, sem assinatura, sem consentimento, sem misericórdia.
Mas, como sempre, a burocracia tinha um nome. E o nome agora é Carlos Lupi, o ministro do Trabalho, que foi alertado oficialmente em junho de 2023 — mas só tomou providência quando a sujeira já escorria pelas escadas do noticiário. Amigo do peito de Lula, garantidor da fidelidade canina do PDT ao petista, Lupi diz que não foi omissão, foi “cautela”. Talvez um novo sinônimo para cumplicidade.
Enquanto isso, entidades que mal tinham meia dúzia de associados pulavam para milhares, sem estrutura, sem serviço, mas com sede de grana. O velho golpe sindical, agora em versão previdenciária: se não dá mais para extorquir o trabalhador com imposto sindical obrigatório, que se vá direto ao bolso do aposentado. Afinal, quem vai reclamar? Quem vai gritar?
Servidores do INSS foram flagrados recebendo propina para vazar dados sigilosos. Dinheiro, joias e obras de arte foram apreendidos nas casas dos investigados. Os crimes vão de corrupção passiva a lavagem de dinheiro. E no meio da farra, uma estrela: a CONTAG, confederação de trabalhadores rurais, que de agricultura parece ter só o nome — e uma sede para organizar festas, eventos, banquetes e viagens de luxo com o dinheiro da “representação”.
Aliás, no mesmo governo que permite esse tipo de pilhagem, 323 companheiros foram agraciados com cargos em conselhos de estatais e empresas privadas com participação da União.
Basta comparecer a uma reunião aqui, outra ali, e pronto: mais R$ 15 mil, R$ 20 mil, às vezes R$ 80 mil no holerite.
É a troca de favores, o velho “toma lá, dá cá”, a arte de manter amigos, aliados, dirigentes partidários, ex-parlamentares e apadrinhados de bancada alimentados e dóceis.
Uma espécie de ração extra que serve para domesticar o Congresso, fidelizar votos, evitar CPI e garantir que, quando o governo tossir, ninguém espirre.
Chamam isso de governabilidade.
Nós chamamos de promiscuidade entre as instituições — um arranjo que desmoraliza a democracia ao transformar a independência entre os Poderes em rede de dependência remunerada.
Enquanto isso, o aposentado que recebe um salário mínimo vê R$ 20, R$ 30, às vezes R$ 100 sumindo do benefício todo mês, sem saber por quê, sem saber para quem.
O governo promete que vai apurar. O ministro jura que não sabia. As entidades afirmam que prestavam “serviços”.
E o Brasil?
O Brasil segue sendo esse lugar onde até quem se aposentou precisa continuar trabalhando — só que agora como financiador involuntário de um novo Petrolão: o da Previdência.
1 comentário
VANDER CESAR DOS REIS · 30/04/2025 às 10:38
Mais uma falcatrua desse pseudo Gov Br, aposentados , pensionistas que nem tem o app MEU INSS, às vezes e vejo isso nas filas de aposentados que aguardam o auxílio dos colaboradores da Instituição que recebem os proventos aguardando para serem auxiliado-los a pegar o valores devidos.
Triste Sina
Que os anjos de Luz , devolvam os valores “roubados” por essa CORJA