A terra prometida aos que prometem subserviência
A cena poderia ter saído de um romance soviético dos anos 1930, daqueles em que o Partido decide quem planta, quem colhe e quem vive. Mas está acontecendo em pleno 2025, em solo brasileiro.
É a volta de um mecanismo abjeto que lembra a ditadura comunista da antiga URSS ou da atual China: listas secretas, fidelidade partidária, distribuição de terras como instrumento de dominação ideológica. Só que aqui, o comitê central atende pelo nome de MST — e despacha diretamente do Palácio do Planalto.
Sim, estamos falando do glorioso retorno da famigerada lista dos beneficiários, modelo de controle social digno do regime de Mao Tsé-Tung, mas agora reciclado no melhor estilo petista para fins eleitorais.
Quem decide quem recebe terra? Ora, o próprio MST.
Com um toque de crueldade burocrática, o governo Lula aboliu a política meritocrática instituída por Temer e mantida por Bolsonaro, na qual qualquer brasileiro podia se cadastrar no Incra, apresentar sua condição socioeconômica e ser pontuado por critérios objetivos para obter um lote rural.
Era uma reforma agrária baseada em dados e não em devotos. Mas para o lulopetismo, onde há método, falta militância — e sem militância, não há votos.
O MST, que havia sido enfraquecido com a perda desse poder de seleção e chantagem, renasce com força total ao retomar as rédeas da distribuição dos hectares destinados à reforma agrária. Só tem um detalhe: a posse da terra, agora, é temporária. Porque Lula também mudou isso: os títulos não são definitivos. São coletivos, precários, e entregues não ao agricultor, mas ao movimento.
É uma artimanha sórdida que perpetua a dependência. Não emancipa, enquadra. O sujeito pode até plantar, colher e construir a casa com as próprias mãos, mas o dono do lote — no papel e no palanque — é o MST. Sai a cidadania, entra a servidão militante.
E quando não dá para abastecer o sistema com crédito direto via Caixa Preta — perdão, Caixa Econômica — o governo arranja outra forma de adubação ideológica: a Conab. Por lá, o Estado compra milho e outros produtos das cooperativas amigas capitaneadas pela turma do Stédile por até 30% acima do preço de mercado. A companheirada agradece, a ideologia floresce, e a meritocracia agrícola continua dormindo em barraco de lona.
Ah, e tem mais: até a Itaipu virou fonte alternativa de irrigação ideológica. A usina binacional, fora do radar do TCU, passou a despejar recursos diretamente nas contas das cooperativas ligadas ao MST. Um refresco financeiro que não ilumina a população, mas aquece os motores do lulismo rural.
Enquanto isso, a lei — aquela coitada — segue sendo desrespeitada com a naturalidade de quem já tem STF de prontidão. A legislação brasileira proíbe que invasores sejam assentados nos programas de reforma agrária. Mas e daí? É apenas mais uma norma a ser afrontada. Estamos no Abril Vermelho é a ordem é invadir propriedades rurais alheias em larga escala: só primeira semana do mês foram registradas 19 ocupações.
O governo não apenas assiste — estimula. Afinal, é o único jeito de continuar alimentando o exército de militantes que poderá garantir mais um ciclo no comando do país.
No fundo, Lula nem esconde. “Eu nunca esqueço quem são os meus amigos”, disse em Campo do Meio, como um padrinho que distribui dotes em troca de lealdade, a ser retribuída num futuro próximo.
Se restava alguma dúvida, agora está tudo muito claro: no governo do PT, os assentamentos da reforma agrária podem continuar sendo improdutivos, desde que sejam eleitoralmente férteis.
A semente que se planta não é de feijão, nem de arroz. É de voto.
2 comentários
Olavo Arsenio Fank · 28/04/2025 às 08:07
Parabéns pela síntese. Uma realidade preocupante.
José A Dietrich F · 27/04/2025 às 18:36
Não é bem assim. O Alexandre de Moraes disse que quem invadir “terras alheias” como a Praça dos 3 Poderes pode ser condenado a 17 anos de prisão.