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Bloco de Notas

Publicado por Caio Gottlieb em

1. Qual será o próximo?

Era o que estava faltando: um escândalo grande, vistoso, com cifras obscenas e cheiro de coisa velha. Depois de tantos “deslizes” menores, finalmente o governo Lula reencontra sua zona de conforto: um desvio colossal no INSS, estimado em R$ 8 bilhões — repita-se, com “b” de bilhão — operado por um esquema de descontos associativos indevidos em aposentadorias e pensões. Um dos alvos da investigação da Polícia Federal é o Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), cujo diretor e vice-presidente é José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão de Lula. A criatividade criminosa é quase comovente: roubar dos velhinhos sob o pretexto de representá-los. Tem que ter estômago.

A culpa, agora, tenta ser empurrada para Carlos Lupi, ministro do Trabalho, que indicou Alessandro Stefanutto (já demitido do cargo) para a presidência do INSS. Mas a conta não fecha: Stefanutto não era um qualquer tirado do almoxarifado da burocracia — ele fazia parte da tropa de confiança de Lula, esteve no gabinete de transição, circulava entre os “fiéis”. Ou seja, se não foi ele quem acendeu o pavio, certamente conhecia bem quem estava vendendo fósforo.

É verdade que a tramoia não começou ontem. Mas foi em 2023, primeiro ano do novo mandato lulista, que ela explodiu em proporções geométricas. Coincidência? Talvez. Mas como dizem os velhos conhecedores do submundo de Brasília: toda organização criminosa precisa de tempo para pegar no tranco.

2. Reforma à brasileira

E a reforma tributária? Ah, sim, aquela epopeia legislativa que prometia simplificar tudo, unir tributos, acabar com a guerra fiscal e levar racionalidade ao manicômio tributário nacional. Pois é, ninguém mais fala dela. Mas ela segue viva — ou, ao menos, agonizando em câmera lenta.

O capítulo da vez é o impasse na instalação do Comitê Gestor do novo Imposto sobre Bens e Serviços, o tal IBS. Esse órgão será responsável por dividir a bolada arrecadada entre estados e municípios, mas a briga pelo controle já emperrou o processo. A disputa é entre duas entidades que se dizem representantes dos municípios: a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP). Traduzindo: uma guerra de federações para ver quem administra a partilha.

A lei previa um modelo quase bicameral de escolha — 14 representantes indicados por voto direto dos municípios e 13 conforme o peso populacional das cidades. Uma solução criativa, porém brasileira demais para funcionar. O prazo para as indicações já venceu, o comitê não saiu do papel e a engrenagem está parada, como um carro zero com a chave perdida dentro.

É só um aperitivo do que vem por aí. Se a burocracia não consegue nem formar um colegiado para começar a discutir o novo sistema, imagine quando for preciso explicar ao cidadão por que o imposto aumentou mesmo com a promessa de que ia baixar.

3. Judiciário inglês decide que mulher é mulher

Após seis anos de debates, embates e pareceres dignos de conferências de alquimia contemporânea, a Suprema Corte do Reino Unido enfim anunciou um veredicto bombástico: mulher é mulher. Não, você não leu errado. Segundo o respeitável Lord Patrick Hodge, vice-presidente da Corte, quando a lei britânica fala em “mulheres”, ela está se referindo — pasmem — ao sexo biológico feminino.

O caso, que opôs o governo escocês à organização For Women Scotland, surgiu quando uma lei local tentou esticar o conceito de mulher para incluir identidades de gênero autoatribuídas. A intenção era nobre — promover igualdade de gênero em conselhos públicos. Mas o efeito colateral foi aquele conhecido: transformar o conceito em gelatina.

Agora, com o novo veredicto, o sexo volta a ser uma realidade física, e não uma opinião. Um choque para os tempos líquidos em que vivemos. A decisão soa quase subversiva. Ou como diria Trump, que também andou redescobrindo a biologia básica: existem dois gêneros. A Suprema Corte britânica apenas confirmou que, pelo menos ali, ainda há juízes dispostos a não reescrever o dicionário inteiro para agradar uma militância barulhenta.

Fica o aviso: no Reino Unido, mulher voltou a ser mulher. E isso, em 2025, é praticamente uma revolução conservadora.

4. A arte de governar até a quebradeira

O governo Lula acaba de apresentar a LDO — Lei de Diretrizes Orçamentárias — para 2026. Um documento que, com a precisão de um cronômetro, avisa quando o Brasil vai parar por falta de bateria. A previsão é objetiva: se nada mudar, o colapso fiscal será em 2027, primeiro ano do próximo presidente. Com sorte, ainda haverá luz elétrica no Palácio do Planalto para que o sucessor possa ler a ata do desastre.

Tudo isso porque o governo, ao revisar os gastos, optou por deixar fora da conta os precatórios — aquelas dívidas judiciais que o Estado é obrigado a pagar, queira ou não. Com isso, criou-se um rombo oculto que, somado ao crescimento natural dos gastos obrigatórios, tornará impossível manter o país minimamente funcional. Não haverá mais margem para nada: nem para investir, nem para tapar buracos — físicos ou orçamentários.

Em números: as despesas obrigatórias vão saltar de R$ 2,39 trilhões em 2026 para R$ 2,84 trilhões em 2029. E a conta não fecha nem com mágica contábil. O resultado? Um Estado que, a partir de 2027, funcionará como um Fusca sem motor — bonito de ver, impossível de andar.

Mas é claro que há método nessa loucura. A prioridade, como sempre, é garantir a reeleição de sua majestade popular. Se o Brasil afundar depois, paciência — o que importa é manter a cadeira cativa no camarote do poder. Afinal, como já dizia certa filosofia palaciana: depois de mim, o caos. E que venha o caos… parcelado, com juros e correção.

5. O abrigo dos bons companheiros

O Brasil voltou a ser o velho porto seguro da impunidade seletiva — aquele onde os condenados da esquerda latino-americana encontram guarida, tapete vermelho e até cafuné ideológico. Desta vez, quem bateu à porta foi Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru, condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro, ao lado do marido, o ex-presidente Ollanta Humala. E adivinhe: ganhou asilo político do governo Lula.

Não foi por falta de provas. Delatores da Odebrecht relataram a entrega de pacotes de dólares em mãos — US$ 200 mil, US$ 300 mil — diretamente para Nadine. E tudo, veja só, em nome da solidariedade bolivariana: a empreiteira atuou na campanha de Humala a pedido do PT. Sim, o partido do próprio Lula, que agora oferece abrigo à destinatária dos recursos. Uma grande confraria continental em plena ação, com afagos, verbas e lealdades transnacionais.

A defesa dela, claro, invoca a cartilha de sempre: perseguição judicial, lawfare, Moro, Lava Jato. Mas no Peru a tese não colou. Lá, o Judiciário não foi cooptado pela narrativa da vítima profissional. Aqui, colou tanto que virou política oficial.

E o povo? Mesmo depois de tantos habeas corpus e anulações festivas, 50% dos brasileiros ainda acham que a Lava Jato fez mais bem do que mal. E 74% acreditam que o STF, ao sabotar delações, estimula a corrupção — diz a pesquisa Genial/Quaest.

Mas nada disso importa. O que importa é manter unida a fraternidade da velha esquerda latino-americana. E no Brasil do PT, quem tem histórico de propina e conexão partidária, sempre encontra abrigo. E talvez um bom churrasco de recepção.

6. O efeito colateral positivo da guerra em Gaza

No meio do horror, uma boa notícia: o Hamas está à beira da falência. Segundo o Wall Street Journal, fontes da inteligência árabe confirmam que o grupo terrorista já não consegue pagar seus integrantes e que seus quadros administrativos — aqueles que controlam o terror sob a fantasia de governo local — também estão com os salários atrasados. Quando falta dinheiro até para a barbárie, há razões para acreditar que o mundo ainda funciona, mesmo que com atraso.

Antes da guerra, o Hamas recebia cerca de US$ 15 milhões por mês do Catar — sim, um governo inteiro financiando assassinos. Além disso, levantava aproximadamente meio bilhão de dólares por ano em doações internacionais, com operações especialmente intensas na Turquia. Isso mesmo: enquanto você trabalha para pagar impostos, instituições mundo afora canalizavam dinheiro para um grupo que trucidou crianças, estuprou mulheres e arrastou corpos pelas ruas de Israel em nome de uma causa doentia.

Agora, com os bombardeios israelenses mais cirúrgicos nesta nova fase da guerra, os alvos são justamente os responsáveis pela distribuição de recursos dentro do grupo. E os efeitos já são sentidos: salários cortados, operações paralisadas, desespero entre os terroristas.

O Hamas, como se sabe, também fazia fortuna explorando o sofrimento alheio: desviava ajuda humanitária, cobrava impostos dos comerciantes, vendia suprimentos doados, manipulava o mercado local. Um cartel disfarçado de resistência. Um Estado bandido travestido de liderança política.

Pode demorar, pode custar vidas inocentes, mas uma coisa é certa: quando se corta o dinheiro da bandidagem, até o terror começa a sangrar. E nesse caso, ninguém vai lamentar.

7. Quando até ministério vira mico

O deputado Pedro Lucas, líder do União Brasil na Câmara, protagonizou um daqueles gestos raros na política brasileira: recusou um ministério. E não qualquer convite — foi chamado pessoalmente por Lula para assumir o Ministério das Comunicações, no lugar do indiciado Juscelino Filho, afastado após investigações da Polícia Federal. Pedro Lucas chegou a aceitar, pensou melhor… e declinou. Preferiu continuar como deputado. Ou, como se diz no jargão parlamentar: preferiu as emendas à cadeira de ministro.

Não é só um caso de cálculo político. É um sintoma. No atual estágio de desgaste do governo Lula, assumir uma pasta virou risco reputacional. O deputado fez a conta e concluiu: é melhor ser líder de bancada do que herdeiro de um escândalo — ainda mais em um governo que já anda em modo zumbi, a dois anos do fim.

No Planalto, a recusa foi lida como surpresa. Mas só se surpreende quem ainda acha que ministério vale mais do que orçamento. E, convenhamos, em Brasília, o poder não mora no gabinete: ele está guardado em emendas impositivas, RP9 e outras siglas que brilham mais do que qualquer título de ministro.

O gesto de Pedro Lucas é menos um “não” a Lula do que um “sim” ao instinto de sobrevivência. Em tempos de baixa popularidade e alta instabilidade, a cadeira de ministro pode ser vista não como prêmio, mas como armadilha. O sinal está dado: o governo atrai cada vez menos — até quando oferece o que, um dia, já foi visto como prestígio.

8. A voz que não se cala — ainda

Em meio ao coro uníssono e disciplinado que se formou no Supremo Tribunal Federal para punir com penas de 14, 15, 17 anos cidadãos acusados de participação nos atos de 8 de janeiro — cabeleireiros, aposentados, motoristas —, uma voz segue destoando: a do ministro Luiz Fux. Isolado, vencido, mas não calado.

Fux voltou a discordar dos colegas da Primeira Turma do STF, que insistem em julgar os réus do “suposto golpe” — aquele que não aconteceu — em decisões turmadas, sem passar pelo plenário. Para ele, a Constituição, que não menciona turmas, exige que as ações penais de tal gravidade sejam julgadas pelo conjunto dos 11 ministros. E lembrou que, quando foi presidente da Corte, tal mudança foi aprovada por unanimidade.

Mas os tempos mudaram. O STF hoje já não se orienta por legalidade, mas por alinhamento. E no tribunal que substituiu o habeas corpus pela carteirinha ideológica, os votos são quase sempre previsíveis. O julgamento em turmas virou um atalho: mais ágil, mais controlável, mais útil à narrativa.

Fux insiste em falar o óbvio: que houve vandalismo, sim, mas não golpe; que houve quebra-quebra, sim, mas não conspiração militar. Que punir com base naquilo que o réu talvez tenha desejado — e não no que efetivamente fez — é revogar o direito penal moderno e instaurar a jurisdição dos oráculos.

A maioria, claro, ignorou. Afinal, a pressa para aplicar castigos exemplares é inversamente proporcional à vontade de discutir garantias fundamentais. Em tempos de justiçamento, a ponderação virou dissidência. E Fux, o último resistente, virou exceção — quando deveria ser regra.

9. Brasil: o país da esperança (de que tudo piore)

O Brasil segue fiel à sua vocação de desafiar a lógica, a física, o bom senso e, quando necessário, a própria aritmética. Enquanto o governo quebra recordes de arrecadação, o déficit público só aumenta. Enquanto o STF avança sobre tudo e todos, é chamado de guardião da democracia. Enquanto o presidente fala em cuidar do povo, distribui bilhões para emendas secretas, apartamentos funcionais e perdões bilionários a companhias amigas.

Agora, o país que tem um dos maiores sistemas tributários do mundo, mas saúde de país africano e educação de ranking vergonhoso, está prestes a reformar… o vocabulário. “Imposto” virou “contribuição”. “Golpe” virou “intenção”. “Bandido” virou “injustiçado”. E “democracia” virou aquilo que o ministro Alexandre de Moraes disser que é.

Vivemos num Brasil onde o cinismo virou política de Estado. E a esperança — essa sim, eterna — virou esperança de que, ao menos, a piada continue melhor que o roteiro.

10. Manual de sobrevivência para tempos absurdos

Em tempos como os nossos, é preciso cultivar pequenas sabedorias. Sabe aquele ditado de que rir é o melhor remédio? Pois é, ele não está sujeito a PEC, a medida provisória, nem a decisão monocrática. Ainda.

Quando tudo parecer confuso — e vai parecer —, respire fundo, pegue uma pipoca e observe. Se o STF inventar um novo tipo de crime, se um condenado for promovido, se um ministro disser que prisão é liberdade e um comentarista econômico falar que déficit é virtude, não se desespere. Apenas anote.

A lucidez, hoje, é uma forma de resistência passiva. A ironia, um protesto elegante. E o sarcasmo, um grito abafado por quem já entendeu que a realidade brasileira não é para ser levada a sério — é para ser narrada como um stand-up com roteiro de Kafka e direção de Zorra Total.

Ria. Nem que seja para não chorar.

Categorias: OPINIÃO

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