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Big Alex, o Justiceiro Supremo

Publicado por Caio Gottlieb em

Ele corre, faz muay thai, posa para fotos e agora também é personagem de perfil na revista New Yorker. Não, não estamos falando de um astro pop. Estamos falando de Alexandre de Moraes, o ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro que agora é candidato a ídolo da intelectualidade socialista norte-americana. Sim, ele mesmo: o Xandão. Ou, como foi rebatizado na tradução chique de Jon Lee Anderson, “Big Alex”.

Anderson, que já biografou Che Guevara — aquele, o guerrilheiro cubano com cheiro de sangue e romantismo revolucionário — decidiu agora estudar uma outra espécie de herói latino: o magistrado que acredita ter recebido poderes especiais para salvar a democracia tupiniquim das garras da direita.

Alexandre abriu as portas do seu gabinete, acendeu os refletores e entregou o figurino completo do justiceiro. Reclamou de tentativas de assassinato, se declarou o protagonista do filme e, claro, sorriu para o fotógrafo das celebridades. Um ministro da Suprema Corte no mais puro exibicionismo. Nada mais Brasil 2025.

A entrevista à New Yorker escancara aquilo que por aqui já virou rotina institucional: ministros do STF ocupando manchetes como influencers jurídicos. Comentaristas de tudo, donos da verdade, oráculos em toga. Só que agora, com ares de exportação. Xandão, quer dizer, Big Alex, está em campanha internacional de imagem. Porque ser temido em Brasília já não basta — agora é preciso ser admirado em Manhattan.

Na conversa com Anderson, nosso herói de muay thai se coloca como o bastião da civilização contra políticos, jornalistas e empresários que discordam de sua visão de mundo perfeito. Antecipa decisões do tribunal onde julga e se permite até ironias com o poderio militar dos EUA.

Ao ser questionado sobre o risco de sofrer retaliações do governo Trump — como o cancelamento de visto, ou até sanções baseadas na Lei Magnitsky por violações à liberdade de expressão — respondeu com desdém: “Se eles enviarem um porta-aviões, então veremos. Se o porta-aviões não chegar ao Lago Paranoá, não vai influenciar a decisão aqui”. O homem é tão imparcial que já tem roteiro de sentença antes do réu se apresentar.

Entre uma confissão de vaidade e outra, Moraes também sugere que a Suprema Corte brasileira pode ser, ao mesmo tempo, vítima, acusadora e juíza. Uma espécie de combo institucional inédito. E tudo isso sem um mísero artigo constitucional que o ampare. Mas quem precisa de Constituição quando se tem “poderes especiais”?

E talvez o mais revelador da entrevista seja justamente aquilo que o próprio ministro expõe sem perceber. A prepotência escorre pelas entrelinhas, como se fosse uma virtude. O narcisismo — esse defeito que costuma andar de mãos dadas com a tirania — aparece sem filtro, sem pudor, embalado em autoelogios e metáforas heroicas. Não é preciso acusá-lo de nada: ele mesmo, com cada frase, se entrega com gosto.

É curioso — ou trágico — notar que em países verdadeiramente democráticos, governados por homens que respeitam as leis, juízes da Suprema Corte vivem à sombra. Não dão entrevista, não posam para a Vanity Fair, não dão spoiler de decisões. Aqui, não. Aqui juiz vira herói, vira personagem de revista, vira símbolo pop de resistência, justiceiro, super-humano. Talvez o próximo passo seja um reality show. “STF: Casa dos Julgadores”.

E assim seguimos: com ministros de capa e espada, repórteres da esquerda-caviar fascinados pelo autoritarismo de toga (desde que seja contra o adversário político certo) e uma elite brasileira que aplaude tudo de pé, como plateia de auditório. Justiça? Constituição? Devido processo legal? Bobagem. O que vale é a narrativa — e o close.

Categorias: OPINIÃO

1 comentário

Alessandro · 13/04/2025 às 12:10

Excelente, é a verdade do nosso judiciário

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