Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o nosso site e as páginas que visita. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com o monitoramento descrito em nossa Política de Privacidade.

No tabuleiro de 2026, o Paraná move sua peça

Publicado por Caio Gottlieb em

Há encontros políticos que parecem protocolares. E há outros que, sob o véu da formalidade, trazem sopros de futuro.

A visita de Jair Bolsonaro ao Paraná, nesta sexta-feira (4), é desses eventos que dizem mais do que mostram.

Oficialmente, trata-se de uma agenda regional. Um almoço com o governador Ratinho Junior em Curitiba, seguido de uma visita à ExpoLondrina, onde o agronegócio desfila força, prestígio e afinidade com o ex-presidente.

Mas ninguém no mundo político tem dúvidas de que esse périplo pelo Estado guarda significados mais amplos.

É, na essência, uma movimentação dentro do xadrez da sucessão presidencial de 2026.

Embora Bolsonaro reafirme, sempre que pode, que será candidato — e de fato, mantém acesa essa tocha —, a realidade jurídica o obriga a considerar alternativas.

A inelegibilidade decretada pelo TSE e o avanço do processo no STF sobre a alegada tentativa de golpe desenham obstáculos que, ao menos por ora, não podem ser ignorados.

Mesmo assim, a direita segue orbitando em torno dele, à espera de um desfecho.

E se Bolsonaro, por qualquer razão, não estiver na urna, ele será o maior cabo eleitoral do país no espectro conservador — e o mais decisivo. E é nesse contexto que o nome do governador Ratinho Junior começa a brilhar com mais intensidade.

O paranaense desponta como um presidenciável de qualidades singulares. Não apenas porque comanda um Estado em plena ascensão econômica, educacional e tecnológica, mas porque soma a isso uma coleção de virtudes cada vez mais escassas na política: espírito agregador, simpatia espontânea, pragmatismo sem arrogância, capacidade de articulação, trânsito em múltiplos setores e uma habilidade silenciosa para costurar consensos sem gerar ruído.

Sua gestão o respalda. O Paraná já é a quarta economia do país, lidera o IDEB nacional, ostenta pleno emprego, avança em inovação, protagoniza no agronegócio e virou referência em infraestrutura, geração de energia e segurança pública.

Não por acaso, Gilberto Kassab, presidente do PSD, já anunciou seu nome como a opção da sigla na disputa pelo Palácio do Planalto.

E não como um mero gesto retórico ou cortesia partidária, mas como parte de uma engenharia política em andamento — cuidadosamente construída, com foco em 2026, reunindo alianças regionais, musculatura administrativa e perfil de centro-direita com pegada desenvolvimentista.

Kassab não joga para perder. E não lança nomes ao vento.

No entorno bolsonarista, Tarcísio de Freitas ainda é apontado como o “plano A”. Mas o governador paulista dá sinais claros de que deve buscar a reeleição, até para entregar obras de grande porte e consolidar um discurso mais robusto para 2030.

Com isso, o campo da direita se reconfigura.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, embora respeitado, não tem o carisma que um embate presidencial exige e, por enquanto, demonstra pouco apetite para articulações nacionais. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, por sua vez, é prejudicado por seu temperamento irascível e posturas radicais que dificultam a formação de alianças mais abrangentes. Já Ratinho Junior, além dos atributos já elencados, tem o que os outros não têm: a confiança pessoal de Bolsonaro.

Se Bolsonaro tivesse que escolher um nome hoje, fora do clã familiar, esse nome seria o do governador do Paraná. A afinidade entre eles não é apenas de ocasião — é de trajetória.

Desde 2018, caminham juntos. Repetiram a dobradinha em 2022 e compuseram apoios mútuos mas eleições municipais de 2024.

Estão em sintonia ideológica, eleitoral e estratégica. E, mais que isso, falam a mesma língua com públicos semelhantes.

De quebra, Ratinho ainda carrega um trunfo raro: o poder de influência do pai, Carlos Massa, o apresentador de TV Ratinho, que mantém audiência sólida em todo o país — especialmente no Nordeste, região onde a direita busca crescer com urgência e onde o nome “Ratinho” abre portas e corações.

A passagem de Bolsonaro pelo Paraná pode parecer, à primeira vista, apenas mais uma parada no mapa.

Mas em política, os gestos são mapas. E estes, no caso, apontam para algo maior e mais emblemático.

Talvez, nesta sexta-feira, venha a ser servido mais do que um almoço de confraternização entre dois parceiros politicos, com discursos de lealdade recíproca, agradecimentos calorosos, fortes apertos de mãos e abraços fraternos.

Talvez esteja sendo preparado, em fogo brando e com os ingredientes certos, o prato mais ambicioso da política: uma candidatura.

Categorias: OPINIÃO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *