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O Banco Master e a “arte” brasileira de fazer negócios

Publicado por Caio Gottlieb em

Se você ainda não entendeu como funciona o capitalismo à moda tupiniquim, preste atenção. O Banco Master, essa joia do mercado de investimentos — famoso mais pelas suas festas nababescas do que por seus demonstrativos contábeis — foi adquirido, pasme, por um banco estatal: o Banco de Brasília (BRB). O negócio, envolto em cifras e silêncios, gira em torno de R$ 2 bilhões, valor suficiente para o contribuinte médio pagar umas três gerações de boletos.

A instituição, controlada pelo empresário Daniel Vorcaro, tem ganhado manchetes não exatamente por sua robustez financeira, mas pelo seu talento em ostentar. Entre outros feitos, Vorcaro protagonizou um baile de debutante digno da monarquia saudita para sua filha, com direito a shows internacionais, bolo voador e um orçamento que faria até o FMI pedir financiamento. Enquanto isso, o Banco Master ia oferecendo CDBs com rentabilidades tão generosas quanto improváveis — 140% do CDI, para ser exato —, o que levou parte do mercado a suspeitar que, por trás da cortina de purpurina, havia mais fumaça do que lastro.

Detalhe saboroso: o banco tem R$ 7,6 bilhões em papéis vencendo até junho. Uma pequena bomba-relógio que, por sorte, pode ser desarmada com um milagre jurídico de R$ 8,7 bilhões em precatórios ainda em disputa na Justiça. Com base nessa fé quase religiosa no poder dos recursos judiciais, o banco construiu seu caminho até o colo confortável do BRB, onde agora repousa como um bebê salvo do naufrágio por mãos generosas do Estado.

E quem aparece nessa história como consultor do Master, estrategicamente nomeado no ano passado? Ele mesmo, o sempre disponível Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma e atual peregrino de gabinetes em Brasília. Dizem que não há porta no Planalto que ele não abra com um sorriso e um PowerPoint.

Mas a cereja do bolo atende pelo nome de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, o xerife do Supremo Tribunal Federal. Ela atua como advogada do banco. E não, isso não é um roteiro de sátira — é a realidade mesmo. Um banco com milhões em jogo na Justiça, com causas que fatalmente podem chegar ao STF, representado por um escritório vinculado à cúpula do Judiciário. Um primor de ética.

E antes que alguém pense se tratar de caso isolado, vale lembrar do ministro Dias Toffoli, que simplesmente anulou as multas bilionárias da JBS na Lava Jato — empresa que, como num passe de mágica, é representada justamente pelo escritório de Roberta Rangel, sua esposa. O Brasil é realmente um país que não decepciona nas relações promíscuas entre o público e o privado.

Mas não se escandalize: o Brasil virou o país onde o conflito de interesses é apenas um estilo de governança. Como num bordel elegante, tudo se negocia com sofisticação, discrição e certo requinte institucional. A moral pública? Essa ficou para trás, em algum lugar do passado.

Assim, o que parece uma compra estratégica, soa, para muita gente no mercado, como um socorro estatal disfarçado — um novo Proer, só que sem a decência de assumi-lo como tal. E mais uma vez, o povão paga a conta com seus impostos, enquanto a elite bem posicionada nos altos escalões do governo brinda com champanhe francesa no rooftop.

No fim das contas, não estamos diante de um escândalo — estamos diante da nova normalidade brasileira: negócios entre amigos, blindagens mútuas, e um sistema que gira, cada vez mais, como uma engrenagem bem lubrificada… com dinheiro público, é claro.

Ah, na foto que ilustra a nota, uma imagem emblemática do Brasil destes tempos: o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa Viviane confraternizando com o amigão Lula. Só para constar.

Categorias: OPINIÃO

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