Tecnologia, propósito e gente: os caminhos do varejo na visão de Carlos Beal
Em um cenário cada vez mais exigente e em constante transformação, o futuro do varejo tem se desenhado na intersecção entre inovação tecnológica, sustentabilidade e o valor das relações humanas.
Foi com esse pano de fundo que o painel “O Varejo na Era da Sustentabilidade e Tecnologia”, promovido pelo GazzConecta, reuniu três nomes emblemáticos do setor supermercadista paranaense: Carlos Beal (Festval), Everton Muffato (Grupo Muffato) e Pedro Joanir Zonta (Rede Condor).
O encontro, que integrou a programação do GazzSummit Agro e Foodtechs durante a Smart City Expo, em Curitiba, teve como mediadores a jornalista Milena Prado e Guilherme Barbosa, fundador do Masterboard.
Mais do que uma mesa-redonda, o bate-papo revelou caminhos, inquietações e estratégias de gigantes do setor, cada um com seu estilo, mas todos sintonizados no mesmo compasso: o da mudança.
Carlos Beal, diretor comercial e de marketing do Festval, trouxe ao debate uma percepção sensível e pragmática do papel que o varejo precisa assumir em tempos de transformações aceleradas.
Para ele, acompanhar o comportamento do consumidor é indispensável, mas compreender as nuances desse comportamento é o verdadeiro diferencial. “Hoje convivemos com cinco gerações diferentes dentro das lojas. É desafiador e, ao mesmo tempo, fascinante. A inteligência artificial nos ajuda não apenas a conhecer, mas a entender esse novo cliente”, pontuou.
Com mais de meio século de história e raízes familiares sólidas, o Festval tem apostado em um modelo de supermercado inteligente, onde tradição e inovação caminham lado a lado.
Beal enfatizou que o velho e bom “feeling” do comerciante segue relevante, mas agora é amplificado por dados, algoritmos e ferramentas digitais. “Temos mais de um milhão de pessoas circulando pelas nossas lojas todos os meses. O desafio já não é mais só vender. É oferecer experiências”, afirmou.
A sustentabilidade também ocupou lugar de destaque em sua fala. Beal citou o projeto Lixo Zero e a parceria com o programa Mesa Brasil, do SESC, que conecta alimentos excedentes a instituições sociais — uma iniciativa que combate simultaneamente a fome e o desperdício.
“Trabalhar sustentabilidade é trabalhar cultura. Internamente, precisamos mudar hábitos, questionar rotinas, propor novas formas de operar. Curitiba tem dado exemplo — transformando até lixões em usinas solares. O varejo não pode se isentar disso. Ao contrário: deve liderar.”
Everton Muffato, por sua vez, destacou a importância da sucessão estruturada e da profissionalização dos negócios. “Hoje todas as áreas são geridas por especialistas. Nossa missão é formar bons herdeiros, que, se desejarem, possam ser também bons sucessores.”
Já Pedro Joanir Zonta emocionou ao relembrar sua trajetória desde a fundação da primeira loja Condor, em 1964. Com orgulho, reforçou a defesa da produção local e do protagonismo dos produtos paranaenses nas gôndolas e nas mesas dos consumidores.
Apesar das rotas distintas, o painel revelou um ponto de convergência evidente: a consciência de que inovação sem propósito é apenas barulho, e que tecnologia só faz sentido se estiver a serviço das pessoas.
“Somos uma empresa feita de gente. E é com gente que vamos continuar sonhando, inovando e construindo algo maior do que apenas um supermercado”, arrematou Carlos Beal, com a firmeza de quem olha para o futuro sem perder a delicadeza de quem sabe de onde veio.