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Ponte da Amizade: a curva concreta que redesenhou dois países

Publicado por Caio Gottlieb em

Era uma vez uma ponte. E como toda boa ponte, ela nasceu para unir.

Mas a Ponte da Amizade, entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, foi além: não apenas ligou dois lados de um rio, mas redesenhou o mapa geopolítico de dois países. E, por que não, da América do Sul.

Neste 27 de março de 2025, a obra completa 60 anos da sua inauguração oficial. Oficial, frise-se — porque a ponte já estava em uso desde bem antes, como convém às obras públicas em que o povo chega primeiro, e os presidentes vêm depois, puxar a fita e posar para a foto.

Na fita cortada estavam dois personagens icônicos de seus tempos: Castelo Branco, primeiro presidente do ciclo militar no Brasil, e Alfredo Stroessner, o longevo ditador paraguaio.

Um encontro de fardas e discursos, mas também de interesses. Porque, ali, no alto dos 290 metros do maior vão livre em concreto armado do planeta à época, ergueu-se muito mais do que engenharia: firmava-se uma aliança.

A ponte, construída entre 1957 e 1965, é o símbolo concreto — literal e figuradamente — da tentativa de integração entre Brasil e Paraguai.

O projeto nasceu no governo de Juscelino Kubitschek, que não queria sair da presidência sem ver a obra em pé. Correu lá em janeiro de 1961, antes do fim do mandato, para antecipar sua “inauguração” simbólica. Não foi só pressa: era visão de futuro.

E o futuro chegou.

A Ponte da Amizade abriu caminho para a Marcha para o Oeste brasileira e a Marcha para o Leste paraguaia. Um encontro de estratégias, interesses, necessidades e esperanças.

Do lado brasileiro, a BR-277 foi se estendendo como artéria vital rumo ao interior. Do lado paraguaio, a PY-02 rasgava o verde rumo ao Brasil — e ao Oceano Atlântico, via portos brasileiros, libertando o país do labirinto alfandegário argentino.

Antes da ponte, não havia Ciudad del Este. O local era mato e sonho. Fundada em 1957 como Puerto Flor de Lis, a cidade só floresceu, de fato, sob a sombra da ponte.

Hoje é a segunda maior cidade do Paraguai — um shopping a céu aberto, mas também um polo logístico e comercial vital para a economia regional.

Com 552 metros de comprimento e uma curvatura elegante que mais parece um gesto de gentileza entre nações, a Ponte da Amizade segue sendo uma das paisagens arquitetônicas mais emblemáticas das fronteiras sul-americanas.

Seu arco não é apenas cálculo estrutural — é símbolo. E como todo símbolo, carrega peso: o peso da história, da diplomacia, da economia e, claro, do povo que a atravessa.

Ali passam turistas com malas vazias e olhos cheios de expectativa; caminhões com toneladas de mercadorias; trabalhadores que vivem de um lado e ganham a vida do outro. E, vez ou outra, contrabandistas também, porque nenhuma ponte escapa da realidade que conecta.

Curiosamente — ou nem tanto — a história da Ponte da Amizade se repete.

A novíssima Ponte da Integração Brasil–Paraguai, pronta desde 2023, ainda espera o asfalto das rodovias prometidas. Enquanto isso, o tempo passa, a burocracia emperra, e os motoristas seguem rodando quilômetros a mais pela velha senhora de 1965. Um lembrete de que pontes, sozinhas, não bastam.

Mas essa bastou. E segue bastando.

Mais que uma obra de concreto, a Ponte da Amizade é uma estrutura de permanência, influência e transformação. É prova de que, quando se liga um território ao outro com inteligência, coragem e visão, o impacto se mede em décadas — e em destinos.

Ao celebrar seu 60º aniversário, ela continua sustentando não apenas veículos e cargas, mas também a ideia de que integração não é apenas possível: é essencial.

Categorias: OPINIÃO

2 comentários

Cynthia Carbonar · 28/03/2025 às 14:44

Texto muito bom! Leitura informativa e super agradável!

João A. Grandr · 28/03/2025 às 08:25

Sensacional!

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