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Gargalo invisível: o atraso portuário que trava o Brasil

Publicado por Caio Gottlieb em

Quando se fala em infraestrutura e logística no Brasil, o debate costuma orbitar sempre ao redor dos mesmos temas: rodovias esburacadas e congestionadas, a escassez de ferrovias e a tímida exploração das hidrovias. São questões reais e urgentes. Enquanto os Estados Unidos e a Europa transportam suas cargas em modernos trens e por canais navegáveis com eficiência logística invejável, o Brasil ainda depende majoritariamente de caminhões enfrentando estradas de pista simples e pavimento precário.

É fato que o país tem muito a avançar em duplicações rodoviárias e na expansão de ferrovias e hidrovias. Contudo, em meio a essas discussões recorrentes, passa quase despercebido um problema estrutural que compromete o elo final da cadeia logística: os portos brasileiros estão três gerações atrasados em relação aos grandes navios cargueiros que cruzam os oceanos.

Não se trata de uma metáfora. Literalmente, os portos do Brasil – inclusive o maior deles, o Porto de Santos – não têm estrutura para receber embarcações modernas da chamada categoria “Panamax”, aquelas projetadas para cruzar o Canal do Panamá e que já representam boa parte da frota global de transporte de cargas.

Esses navios simplesmente não conseguem atracar aqui por limitações técnicas dos nossos terminais e calados. Resultado: boa parte da nossa produção agroindustrial e mineral, mesmo sendo altamente competitiva em termos de volume e qualidade, perde mercado ou paga preços mais altos para ser redirecionada a portos alternativos em outros países. Isso afeta diretamente o custo Brasil, reduz a nossa competitividade global e cria um ciclo vicioso de encarecimento logístico.

Paradoxalmente, o país corre o risco de investir bilhões em novas rodovias, algumas ferrovias e até na modernização de aeroportos, mas sem ter um sistema portuário minimamente alinhado ao comércio marítimo do século XXI. Ou seja: podemos até conseguir levar as cargas do campo até o litoral com mais agilidade, mas de lá elas simplesmente não embarcam, ou embarcam mal.

E o mais grave é que essa limitação não só engessa as exportações como reduz o interesse de grandes operadores logísticos internacionais em aportar no Brasil.

Ao fim e ao cabo, seguimos discutindo duplicações de BRs e concessões ferroviárias, enquanto fingimos que o litoral brasileiro é apenas um longo e bonito cartão postal – com belas praias e portos subdimensionados.

No ritmo em que estamos, o Brasil vai acabar sendo o único país do mundo com soja pronta para exportar, caminhão novo na estrada, ferrovia moderna no Cerrado… e navio dando meia-volta porque o porto não cabe.

Categorias: OPINIÃO

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