O crime não compensa?
Postando vídeos em que se exibe fazendo exercícios de musculação na academia, ou dando dicas de livros, filmes e séries, ou falando de MPB e lembrando eventos da época em que comandava o Palácio Guanabara, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, é um sucesso nas redes sociais.
Para além da doce rotina de entretenimento do mundo virtual, sua atividade no mundo político, onde detém notório conhecimento, principalmente dos meandros obscuros do negócio, não é menos intensa.
Credenciado por sua vasta e exitosa experiência no ramo, Cabral vem assessorando parlamentares, prestando serviços de consultoria a prefeitos, aconselhando altos membros da cúpula dos poderes executivo e legislativo do Estado e estabelecendo relações estratégicas para recuperar prestígio e influência na política fluminense.
Toda essa movimentação, confidenciam seus aliados, tem o objetivo de pavimentar o caminho para o ex-governador concorrer a deputado federal em 2026, bastando somente, para que seu plano se concretize, escapar dos últimos três processos com decisões em segunda instância que o impedem de se candidatar, por causa da Lei da Ficha Limpa.
Ou seja, nada que um benevolente amigo magistrado da mais alta instância judicial do país (e Cabral tem muitos por lá) não possa resolver com uma simples canetada, aproveitando, de quebra, para livrá-lo também da incômoda tornozeleira eletrônica que ainda é obrigado a usar.
Afinal de contas, o que custa dar mais uma ajudazinha para quem já se safou de 23 condenações e cumpriu míseros 6 dos 423 anos de prisão a que foi sentenciado por corrupção e outros malfeitos desvendados na Operação Lava Jato?
O fato é que Sérgio Cabral, réu confesso de desvios que teriam lhe rendido mais de meio bilhão de reais, dos quais apenas metade foi ressarcida aos cofres públicos, muito em breve estará de volta, lépido e fagueiro, ao palco central da política brasileira.
É um escárnio escandaloso que jamais veremos acontecer em nações livres, civilizadas e democráticas, dotadas de Justiça ética, séria, imparcial e íntegra.
Mas que já não desperta mais a menor indignação em um país onde a impunidade dos ricos e poderosos, ao lado das praias, do samba e do carnaval, tornou-se parte da paisagem.
Um país onde se aceita, docilmente, que um meliante, sem nunca ter sido absolvido ou inocentado dos delitos, sobejamente comprovados, que praticou, pelos quais passou mais de um ano e meio na cadeia, possa ser “descondenado” de uma pena de mais de 12 anos de prisão e habilitado para eleger-se presidente da República, graças aos companheiros que colocou na suprema Corte.
Em resumo, Cabral é só mais um tapa na nossa cara.