OAB, cadê você?
Credenciada não só pela força das prerrogativas constitucionais que embasam sua atuação dentro da estrutura jurídica do país, mas, também, pela dimensão moral que a história lhe confere por seus relevantes serviços já prestados à nação, a Ordem dos Advogados do Brasil deveria estar na linha de frente da luta para conter a sucessão de arbitrariedades cometidas pelo Supremo Tribunal Federal.
Mas não está.
Seja por covardia, conivência ou cumplicidade, o que se vê, lamentavelmente, é uma instituição leniente, calada diante dos abusos praticados em série por ministros da Corte, que assumem despudoradamente preferências político-partidárias, reinterpretam e até reescrevem as leis para adequá-las a seus interesses, consagram a impunidade ao livrar da prisão criminosos endinheirados condenados com provas insofismáveis, usurpam atribuições dos poderes legislativo e executivo, não respeitam trâmites legais e atentam desenfreadamente contra o estado de direito.
É uma omissão escandalosa que envergonha a trajetória centenária da OAB na defesa da democracia, fere seriamente os direitos profissionais de seus associados e serve de endosso e incentivo para a escalada autoritária do STF.
Felizmente, nem tudo está perdido.
Ainda existem vozes destemidas nos quadros da entidade dispostas a manifestar seu inconformismo com a realidade que conduziu o Brasil para uma ditadura de magistrados togados.
Uma delas é a do renomado criminalista Leonardo Sica, eleito com votação recorde para presidir a Seccional de São Paulo da OAB.
Sem temer as retaliações que certamente virão, ele disparou severas críticas, ao ser ouvido pelo Estadão, contra o poder excessivo que a Suprema Corte brasileira se autoconcedeu.
Reclamando da “interferência nociva do Judiciário em todas as esferas da vida pública de uma maneira incontida”, Sica afirmou que “a gente tem que encontrar uma maneira de redefinir os limites do Judiciário. Todos os poderes têm que ter limites.”
“Para enfrentar o ativismo do STF”, apontou, “é preciso estabelecer mandato para os ministros e reduzir o foro privilegiado para o presidente da República e ministros”, ressaltando que “o Supremo é hoje um grande tribunal criminal de todas as autoridades do Brasil. Isso dá um poder desmedido. Você tem um desequilíbrio institucional evidente. Há 11 pessoas que julgam todos os deputados, todos os senadores, todos os ministros.”
Avaliando que os processos do 8 de Janeiro são “exemplo claro da competência estendida do Supremo”, Sica opina que os réus teriam que ser julgados pelos juízes de primeiro grau. “Os ministros do STF não tinham que estar julgando todo esse monte de gente. Não tem como um juiz ouvir o advogado de 3 mil pessoas. Uma das consequências disso”, alerta, “são as limitações à defesa.”
“Quando eu vou lá falar no tribunal”, observa o causídico, “não estou falando por mim, estou falando por alguém que não pode falar por conta própria. Então, essas tentativas, especialmente os tribunais superiores, de limitar a voz dos advogados, pedir para gravar a sustentação oral, tudo isso é muito grave.”
São apenas alguns dos trechos da entrevista, suficientes para mostrar a que veio o futuro presidente da OAB-SP.
Que o novo ano que se inicia nos brinde com o despertar do patriotismo em outros líderes influentes e inspiradores como Leonardo Sica e os encoraje a enfrentar o sistema perverso que nos capturou e ajudar a restaurar a liberdade no Brasil.
Afinal, a esperança é a última que morre.
6 comentários
Pedrao · 07/01/2025 às 11:39
Ainda estou aqui Caio. 🫡🫡
Edgard Mondadori Filho · 03/01/2025 às 14:41
Prezado Caio, artigo brilhante e corajoso, é importante seja lido pelas Seccionais da OAB em todo o Brasil, temos uma em cada Estado. É obrigatório perguntar: onde está o Rio de Janeiro? Onde está Minas Gerais? Onde está o Distrito Federal? E o Ceará, Pernambuco e Bahia, onde estão? E o Norte e o Centro-Oeste? E os nossos Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul? Abandonaram todos a secular peleja pela independência e liberdade para mergulhar num lamaçal de subserviência e rapapés aos Poderes Executivo e Judiciário de ocasião? Perdoem mas isso não é e nunca será a verdadeira Ordem dos Advogados do Brasil.
Essa turma é composta pelos seguidores do maior filósofo da alma nacional chamado Millôr Fernandes, que já proclamava que “no Brasil, os Advogados cultos e inteligentes conhecem a jurisprudência e a lei. Os Advogados geniais conhecem os Juízes “… Ainda há tempo de reagir, tomara floresça o exemplo do Doutor Sica.
Marco Aurélio Beck Lima · 03/01/2025 às 14:18
OAB uma vergonha Nacional ! STF muito mais ainda !
Forças Armadas virou piada Nacional depois de se submeterem “ aos desmandos “ de Alexandre de Moraes ! General de 4 Estrelas presos sem os mínimos requisitos para tal ! Tá muito difícil achar o final do túnel Caio !!
José A Dietrich F · 02/01/2025 às 21:17
Realmente Caio, a OAB está acovardada como jamais vimos. Sempre foi uma instituição respeitada, corajosa, guerreira. Hoje não passa de um “cartório” , no pior sentido. Um agrupamento de oportunistas interesseiros, vassalos das Cortes. Quando vestíamos a Beca nos tribunais, nos enchíamos de orgulho, de brio, em defesa do Direito. Hoje não há mais isso. Há meia dúzia de exceções. As cúpulas das OAB federal e estadual vestem a beca para lamber as botas dos juízes. Ainda bem que ainda há juízes que não se impressionam com essa vassalagem. Advogados antes respeitados, hoje são cordeiros em busca de fama e dinheiro. Muitos querem apenas usar a nossa instituição para virarem desembargadores e, se possível, ministros. É triste testemunhar isso.
MARIA CAROLINA GONÇALVES PIROLLA · 02/01/2025 às 21:02
Ótima matéria, infelizmente OAB deixou de ser uma grande instituição em prol da defesa dos direitos coletivos e agora defende o interesse de poucos (grandes e escusos).
VANDER CESAR DOS REIS · 03/01/2025 às 13:14
Bom tarde Caio. Você me representa nos seus artigos, enalteço-o. E Zé Dietrich foi extremamente feliz em complementar nossos pensamentos . Não me canso de saber que temos dois expoentes em defesa dos cidadãos de bem em prol da democracia e defesa dos DIREITOS HUMANOS. Saúde e paz aos dois e continuem, defendendo nos dessa CORJA que esta no poder. Estão mas , não são o poder.
Abraço fraterno Caio e Dietrich
Vander Reis