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No fim das contas, estamos no lucro

Publicado por Caio Gottlieb em

É mais  do que justificável o sentimento de frustração que domina as lideranças empresariais e políticas do Oeste e do Sudoeste do Estado após o leilão do lote 6 do novo programa de concessões rodoviárias do Paraná, o maior do gênero na América do Sul.

Único participante inscrito no pregão promovido pelo Ministério dos Transportes na Bolsa de Valores de São Paulo, o consórcio EPR, aproveitando-se da inexistência de disputa, sacramentou o arremate oferecendo irrisórios 0,08% de desconto sobre a tarifa máxima estipulada no edital para o pedágio que será cobrado nas estradas federais e estaduais que compõem o bloco.

Ou seja, o preço para levar as cargas das duas regiões agroindustriais mais pujantes do Estado para embarque no porto de Paranaguá rumo aos mercados internacionais não ficará tão barato quanto se esperava, embora esse custo possa ser mitigado, no médio e longo prazo, com ganhos de produtividade e com a redução do tempo das viagens a ser alcançado pela modernização e ampliação da capacidade das vias, que propiciarão mais fluidez e segurança no tráfego.

O fato é que não temos para onde escapar: se não houver uma rápida e significativa evolução na infraestrutura rodoviária do Estado como um todo, o que é impossível sem o aporte expressivo de capital privado, veremos muito em breve, a menos que paremos de crescer, um colapso de consequências catastróficas para a economia do Paraná, com filas de caminhões e automóveis andando devagar quase parando.

Devemos encarar a realidade: enquanto não dispusermos de uma malha ferroviária ampla e eficiente (um sonho hoje distante), seguiremos enfrentando uma dependência crucial das rodovias.

De qualquer forma, compreende-se que a decepção tenha sido imensa, especialmente considerando-se o deságio de 26,6% proposto dias antes pela CCR ao abocanhar o lote 3. A diferença é que ali estavam na briga outros três competidores.

Mas a coisa poderia ter sido ainda pior: temia-se que a licitação resultasse deserta, isto é, que não aparecesse nenhum pretendente.

Explica-se o motivo do receio: o lote 6, como bem destacou o governador Ratinho Junior, é particularmente desafiador, pois abrange 662 quilômetros de rodovias, dos quais 462 terão que ser duplicados entre o terceiro e o nono ano do contrato, incluindo-se no bolo a construção de mais de 130 pontes e viadutos.

São mais de 20 bilhões de reais de investimentos em obras e serviços de manutenção distribuídos ao longo de 30 anos. É preciso ter muita bala na agulha para se meter num negócio dessa magnitude. Era, por essa razão, a menos cobiçada das seis concessões dado o colossal volume de recursos que ela demandará.

“Mesmo sem concorrência no leilão, a modelagem já previa um desconto de 34% em relação ao valor atual do pedágio, chegando até a 40% em algumas praças”, pondera o governador.

Aliás, em certo ponto, chega a ser surpreendente que em um país onde a taxa de juros caminha para bater nos 14% ao ano, assombrado pela insegurança jurídica e por uma gestão econômica errática que provoca pressão inflacionária e instabilidade cambial, ainda exista gente disposta a sacar seu dinheiro do banco, abdicando da tranquilidade de uma ótima rentabilidade financeira, para correr riscos inimagináveis.

Apesar disso, e na contramão das previsões mais pessimistas, o processo, de um modo geral, atingiu o objetivo almejado: despertou o interesse de grandes grupos empresariais e dos mais tradicionais operadores logísticos do país, possibilitando que a tarifa média do pedágio em âmbito estadual venha a se fixar em níveis bastante razoáveis, suficientes para garantir a execução das obras sem onerar demasiadamente os usuários.

Prevaleceu neste caso, como principal atrativo para os investidores, o excepcional momento vivido pelo estado, posicionado como a quarta economia do Brasil, impulsionada por dezenas de bilhões de reais em novos empreendimentos, com PIB crescendo acima da média nacional, pleno emprego e vistosos indicadores sociais, feitos que colocaram Ratinho Junior no palco da sucessão presidencial de 2026.

Em resumo, as potencialidades do Paraná, suas virtudes já consolidadas e seu futuro cada vez mais promissor, falaram mais alto.

Categorias: OPINIÃO

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