Um jogo com cartas marcadas
Chegou o momento ansiosamente aguardado nos últimos tempos pelos apoiadores e pelos adversários do senador Sergio Moro: começou nesta segunda-feira (2), com prazo para terminar no próximo dia 8, o julgamento dele no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná que poderá determinar a perda de seu mandato por suposto abuso do poder econômico nas eleições de 2022.
Relembrando o caso: Moro é acusado, em ações movidas pelo PL e pela federação formada por PT, PV e PCdoB, de ter extrapolado os limites de gastos durante a pré-campanha presidencial pelo Podemos, que se somou depois às despesas da campanha desenvolvida nos meses seguintes, já como candidato pelo União Brasil, que o levou a conquistar sua vaga no Senado.
Já no início dos trabalhos, em um voto primoroso, elogiado por muitos juristas, o desembargador Luciano Carrasco Falavinha de Souza, relator dos processos, demoliu impiedosamente as alegações dos litigantes, propondo a absolvição de Moro pela absoluta improcedência das imputações e pela extrema fragilidade das provas apresentadas.
Não é totalmente impossível que o posicionamento contundente e bem fundamentado do relator possa convencer a maioria dos outros seis integrantes do TRE a produzir uma decisão final favorável ao senador.
Porém, quando se sabe que o julgamento foi adiado duas vezes à espera da nomeação pelo presidente Lula de dois novos membros do colegiado e quando se sabe que o petista jurou se vingar do ex-juiz da Lava Jato que o botou na cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a imparcialidade da Corte fica seriamente comprometida.
De todo modo, mesmo que Moro seja inocentado na instância estadual, ele não escapará de ser condenado no Tribunal Superior Eleitoral, dominado por magistrados ligados ao Palácio do Planalto. Ainda lhe restará a possibilidade de interpor um recurso no Supremo Tribunal Federal, igualmente composto majoritariamente por ministros petistas, onde sua derrota será derradeiramente sacramentada e efusivamente celebrada por seu arqui-inimigo Gilmar Mendes.
Aliás, tal é a certeza desse desfecho nos meios políticos que a futura disputa pela cadeira de Moro no Senado, em eleição suplementar a ser convocada pelo TSE, já vem assanhando há meses inúmeros pretendentes tanto da esquerda como da direita.
Consumada a cassação de Moro, repetindo o que foi feito com Deltan Dallagnol, ex-procurador da República na Operação Lava Jato, que perdeu o cargo de deputado federal em circunstâncias semelhantes, o Brasil passará ao mundo a mensagem de que nossos corruptos não se contentam apenas com a impunidade, que já estão assegurando junto ao STF.
Buscam agora também a desforra contra os agentes da lei que um dia tiveram a ousadia de tentar puni-los e para deixar bem claro que, neste país, o crime compensa e que caçadores de bandidos ricos e poderosos não se criam.