“No hay plata”
Essas três palavras espanholas estampadas aí no título – que significam, em português, “não há dinheiro” –, ditas pelo novo presidente da Argentina, Javier Milei, em seu discurso de posse, resumem a colossal tarefa que ele terá pela frente para consertar um país que se encontra no limiar da falência.
“Nestes dias muito se falou sobre a herança que vamos receber. Que fique claro: nenhum governo recebeu uma situação pior do que estamos recebendo. O kirchnerismo, que em seu início dizia que tinha superávit fiscal e externo, nos deixa déficits que representam 17% do PIB”, enfatizou o economista de direita e ultraliberal eleito para ocupar a Casa Rosada pelos próximos quatro anos.
Corrente predominante do peronismo, movimento político que há décadas, com iniciativas populistas e socialistas, vem dilapidando sistematicamente uma nação que já esteve entre as mais prósperas do mundo, o kirchnerismo surgiu com o ex-presidente Néstor Kirchner, já falecido, firmou-se nos dois governos de sua esposa Cristina e teve seu ápice destrutivo no catastrófico mandato agora findo do discípulo Alberto Fernández, de quem ela era vice.
Indesmentíveis, os números que retratam a derrocada econômica argentina mostram um cenário de terra arrasada: inflação anual acima de 150% ao ano, 45% da população abaixo da linha da pobreza, 10% passando fome, reservas internacionais negativas em mais de 12 bilhões de dólares e uma dívida de 44 bilhões com o FMI.
Eis os principais tópicos do pronunciamento de Milei, já sinalizando os primeiros passos de sua desafiadora gestão:
“Hoje começa uma nova era na Argentina. Hoje encerramos uma longa e triste história de decadência e declínio e iniciamos o caminho da reconstrução do nosso país”.
“Infelizmente, a nossa liderança decidiu abandonar o modelo que nos enriqueceu e abraçou as ideias empobrecedoras do coletivismo. Há mais de 100 anos, os políticos insistem em defender um modelo que só gera pobreza, estagnação e miséria”.
“Esta é a última bebida amarga para iniciar a reconstrução da Argentina. Ou seja, haverá luz no fim do caminho”.
“Eles arruinaram nossas vidas. Eles nos fizeram baixar nossos salários 10 vezes. Portanto, não devemos nos surpreender com o fato de o populismo nos deixar com 45% de pobres e 10% de indigentes”.
“Não há espaço para discussão entre choque e gradualismo. Naturalmente, isto terá um impacto negativo no nível de atividade, no emprego, nos salários reais e no número de pessoas pobres e indigentes”.
“Não existe solução sem atacar o déficit fiscal. A solução implica um ajuste fiscal no setor público nacional de 5 pontos do PIB (20 bilhões de dólares), que, ao contrário do passado, recairá quase inteiramente sobre o Estado e não sobre o setor privado”.
“Nosso país foi sequestrado por traficantes de drogas e pela violência. As nossas forças de segurança foram humilhadas durante décadas, foram abandonadas”.
“A situação na Argentina é crítica e emergencial. Não temos alternativas e também não temos tempo. Não temos espaço para discussões estéreis. Nosso país exige ação, e ação imediata. A classe política deixa um país à beira da crise mais profunda”.
“Vamos tomar todas as decisões necessárias para resolver o problema causado por 100 anos de desperdício da classe política. Mesmo que seja difícil no início. Sabemos que no curto prazo a situação irá piorar. Mas então veremos os frutos dos nossos esforços”.
“Quanto à classe política argentina, quero dizer-lhes que não viemos para perseguir ninguém, não viemos para resolver velhas vinganças nem para discutir espaços de poder. Não pedimos apoio cego, mas não vamos tolerar que a hipocrisia, a desonestidade ou a ambição de poder interfiram na mudança que nós, argentinos, escolhemos”.
“Não é por acaso que esta posse presidencial ocorre durante o feriado de Hanukkah, o festival da luz, pois celebra a verdadeira essência da liberdade. A guerra dos Macabeus é o símbolo do triunfo dos fracos sobre os poderosos, porque você sabe que prefiro contar-lhe uma verdade incômoda do que uma mentira confortável”.
Que Deus ajude o Milei na sua árdua missão, conceda fé, paciência e resiliência aos argentinos para suportarem a dura travessia e proteja o Brasil das tentativas do petismo, irmão ideológico do peronismo, de adotar as mesmas práticas desastrosas que mergulharam o país vizinho na maior crise econômica de sua história.
Sempre é bom lembrar, nessas horas, uma das frases lapidares da ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher: “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”.