Dos males, o menor
Servem apenas para atazanar Lula e tirá-lo da zona de conforto os protestos contra a indicação de Flavio Dino para a vaga de Rosa Webber no Supremo Tribunal Federal.
A menos que haja um cataclisma de proporções bíblicas, nada neste mundo vai impedir que o seu ministro da Justiça venha a reforçar a bancada governista na Corte, já amplamente majoritária.
É preciso encarar os fatos sem paixões partidárias e preferências ideológicas. Não vivemos em uma daquelas quase perfeitas democracias escandinavas.
Debaixo das atuais regras que regem o modelo de composição do STF no Brasil, que agradam ou desagradam dependendo do lado em que se esteja, jamais veremos uma escolha genuinamente republicana, ou seja, de alguém que, além de cumprir os critérios que a lei exige para o cargo (atendidos ultimamente sem muito rigor, diga-se de passagem), não tenha vínculos políticos e pessoais com quem vier a indicá-lo.
Sobretudo nestes tempos em que o desenfreado e crescente ativismo judicial faz do Supremo o poder dominante da República, passando por cima da Constituição e usurpando funções e prerrogativas exclusivas do executivo e do legislativo, nenhum ocupante do Palácio do Planalto vai ser burro de não colocar na Corte um ministro que lhe devote fidelidade canina.
Lembremos que quando Lula mais precisou dos companheiros togados, eles não negaram fogo, anulando suas condenações por corrupção na Lava Jato e habilitando-o para ganhar o terceiro mandato presidencial.
Diante dessa realidade, a sabatina de Dino no Senado, marcada para a próxima quarta-feira (13), será, assim como foi com seus antecessores, uma mera peça teatral, com os atores da oposição votando contra e os da situação, engordada por aliados oportunistas de ocasião, aprovando o nome dele por folgada margem.
Mesmo porque o histórico da Casa não recomenda esperar desfecho diferente: a última vez em que os senadores rejeitaram um candidato proposto pelo presidente da República para o Supremo foi há 129 anos.
Não seria agora que cometeriam tamanha desfeita, desgostando o petista e, principalmente, os ministros do STF que apoiam a candidatura de Dino.
Se servir de consolo, saiba que poderia ser muito pior: Lula chegou a pensar em indicar a Gleisi Hoffmann…