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Milei é dúvida, mas Massa é certeza

Publicado por Caio Gottlieb em

Até o meteórico surgimento do oposicionista Javier Milei na disputa, pouca gente, fora dos círculos acadêmicos, tinha ouvido falar do anarcocapitalismo, a ideologia que ele segue e pretende implementar à frente da Casa Rosada caso derrote o candidato governista Sergio Massa nas eleições presidenciais da Argentina.

Para quem não sabe, os anarcocapitalistas, ou ancaps, como são conhecidos seus adeptos, integram uma vertente mais radical do pensamento liberal.

Trata-se de um sistema filosófico, político e econômico cujos princípios incluem a liberdade individual, a propriedade privada, o livre mercado, o princípio da não-agressão e, acima de tudo, a eliminação total do estado.

É também descrito como uma espécie de libertarianismo levado às últimas consequências, em que todos os aspectos da sociedade devem ser privatizados – incluindo a administração pública, a polícia e até a justiça.

“Mais do que uma escola de pensamento”, assinala o jornalista Omar Godoy ao explanar sobre o tema em artigo publicado na Gazeta do Povo, “o anarcocapitalismo se configura na atualidade como um movimento, quase uma contracultura de direita, com seus institutos, livros, influenciadores e canais de discussão e divulgação”.

Por sinal, já se percebe nas redes sociais uma quantidade significativa e crescente de jovens aderindo à corrente.

Do ponto de vista histórico, o economista e filósofo norte-americano Murray Rothbard (1926-1995), ligado à Escola Austríaca, é considerado o principal teórico do anarcocapitalismo e criador do termo.

“Para muitos críticos, especialmente os de esquerda”, destaca Godoy, “a simples ideia de conectar os conceitos de anarquismo e capitalismo é bisonha – como se os ancaps juntassem alhos e bugalhos, descontrole e rigor. É o típico erro de quem não faz a lição de casa direito. Os dois sistemas compartilham, em suas nomenclaturas, a raiz “anarco”, derivada do grego “anarkhos” (“sem governo”), que não tem nada a ver com bagunça ou desordem”.

Resumindo, o anarcocapitalista defende a existência de uma sociedade com instituições, cooperação e governança. Porém, diferentemente do anarquista clássico, o ancap crê que a propriedade privada é a principal garantia da liberdade dos indivíduos.

Considerando todos esses elementos, não é à toa que as propostas de Milei, tais como acabar com quase todos os ministérios, extinguir o Banco Central e dolarizar a economia, vêm encantando grande parte dos eleitores e desenhando, segundo as últimas pesquisas, sua vitória no segundo turno.

Que fique claro: seu favoritismo não é porque ele esteja sendo visto como o salvador da pátria, o messias que vai operar o milagre de tirar a nação do buraco. Ninguém certamente se ilude com isso.

A questão é que os argentinos cansaram do excesso de Estado, uma característica dos regimes de esquerda e um pilar fundamental do peronismo que há décadas, com curtos intervalos, vem comandando desastradamente o país.

Um Estado cheio de poder, mas incompetente, ineficaz, perdulário e falido. Um estado paternalista que aparelha instituições e faz delas cabides de emprego para cabos eleitorais e sindicalistas. Que interfere na vida e limita os direitos dos cidadãos. Que oprime, pune e extorque o setor produtivo. Que concede, com recursos públicos, benesses e favores a empresários que rezam por sua cartilha. Que desestimula a competividade, a livre iniciativa e a geração de emprego e renda. Que exauriu as reservas internacionais para manter programas assistenciais com finalidade populista. Um Estado que corrompe e é corrompido em todas as suas esferas, enriquecendo ilicitamente políticos desonestos poderosos e sua cúmplice confraria de amigos.

Aliás, em vários desses pontos, qualquer semelhança com o Brasil dos governos do PT não é mera coincidência.

Em suma, é essa Argentina em frangalhos, com inflação beirando os 150% ao ano, sem dólares para importar remédios e equipamentos para cirurgias, que volta às urnas dia 19 para escolher entre o economista Javier Milei e o peronista Sergio Massa, ministro da Economia da calamitosa gestão do atual presidente Alberto Fernández, que fez o país, outrora um dos mais ricos do mundo, mergulhar na maior crise social e econômica de sua história, levando 40% da população a viver na mais absoluta miséria.

É essa Argentina que terá de decidir entre apostar na incógnita, elegendo o candidato desconhecido que traz novas possibilidades, que oferece ao menos a esperança de mudanças e a chance de alguma coisa dar certo, ou eleger o candidato do sistema, já bem conhecido, um dos responsáveis pela trágica situação do país, que vem com todas as chances de continuar fazendo tudo errado – afinal, o que ele tem mais a oferecer a não ser o fracasso?

Fosse eu argentino dava um voto de confiança pro Milei, apesar de todos os seus defeitos. A alternativa, como se vê, é muito pior.

Categorias: OPINIÃO

3 comentários

João Antônio César da Motta · 07/11/2023 às 19:15

Quando um Banco Central deixa de funcionar? Quando não pode exercer o controle monetário pela política de juros, pois se recrudescer controla a inflação mas a dívida pública explode. Se afrouxar a inflação mata o país. Enfim, o “currency board” proposto por Milei pode salvar a Argentina. Aquele ditado de que o Brasil de amanhã é a Argentina de hoje, quem sabe se Milei vencer podemos imitar com sucesso

ROMILDO MOUSINHO FERREIRA · 07/11/2023 às 11:02

“Um Estado cheio de poder, mas incompetente, ineficaz, perdulário e falido. Um estado paternalista que aparelha instituições e faz delas cabides de emprego para cabos eleitorais e sindicalistas. Que interfere na vida e limita os direitos dos cidadãos. Que oprime, pune e extorque o setor produtivo. Que concede, com recursos públicos, benesses e favores a empresários que rezam por sua cartilha. Que desestimula a competividade, a livre iniciativa e a geração de emprego e renda. Que exauriu as reservas internacionais para manter programas assistenciais com finalidade populista. Um Estado que corrompe e é corrompido em todas as suas esferas, enriquecendo ilicitamente políticos desonestos poderosos e sua cúmplice confraria de amigos.”
Tá falando da Argentina, tem certeza? Eu penso que é do Brasil.

    Américo Diniz · 09/11/2023 às 10:00

    Concordando em tudo. Torcendo pelo Milei, apesar de entender que a mudança que os ancaps trazem, não tem nenhuma experiência em outros lugares, então a incógnita fica nisso. Teria que criar vários mecanismos de gestão e governança para garantir o bom funcionamento de tudo. Pensando nos mais pobres, como garantir a eles os mesmos direitos e deveres? Essa transição é de suma importância para o sucesso do projeto. Enfim, muitas incógnitas, mas uma certeza, que a Argentina precisa mudar para voltar a ser um país grande e exemplo para outros do continente.

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