Trincheira contra o retrocesso
Não é porque o assunto saiu das manchetes que o Palácio do Planalto ficou menos interessado em desfazer a Reforma Trabalhista, uma das principais promessas insanas de Lula na campanha eleitoral.
Muito pelo contrário.
Longe do noticiário, é nos bastidores, por enquanto, que as coisas estão acontecendo. Ou efervescendo.
Presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria, o advogado e empresário Alexandre Furlan, coordenador da bancada do setor produtivo na comissão tripartite (que inclui representantes dos empregados e de órgãos governamentais) nomeada pelo Ministério do Trabalho para avaliar as mudanças pretendidas pelo PT e pelos partidos de esquerda, contou-me em conversa que gravamos recentemente para o programa Jogo Aberto que o debate, como era de se esperar, está sendo extremamente difícil, quase um diálogo entre surdos.
Seja como for, ele adiantou que o empresariado não endossará nenhuma alteração que venha a desfigurar a legislação aprovada em 2017, que mal teve a oportunidade, devido à recessão econômica deixada por Dilma Rousseff e agravada pela pandemia, de mostrar todos os seus benefícios, que já propiciaram, por exemplo, maior segurança jurídica para as empresas e para seus investimentos e reduziram drasticamente o número de ações trabalhistas a níveis civilizados.
Um dos pontos centrais das discussões é o conjunto de normas que instituiu regras mais claras para os serviços terceirizados, alinhando o Brasil com as novas e inevitáveis relações de trabalho que surgiram do avanço da revolução tecnológica, mas que o governo, por motivos meramente ideológicos, deseja revogar no todo ou na maior parte.
Por trás dessa queda de braço, esconde-se o grande objetivo do PT: retomar o imposto compulsório cobrado dos salários dos trabalhadores para botar novamente centenas milhões de reais nas contas bancárias de sindicatos aliados e nos bolsos de seus dirigentes.
Ninguém se iluda: eles vão tentar de tudo para destruir o que está feito e restabelecer a velha, carcomida e anacrônica CLT, criada na década de 1940 por inspiração fascista. E o primeiro passo para isso será referendar a intenção no colegiado, onde têm folgada vantagem de votos.
A sorte é que o Congresso Nacional, onde qualquer modificação na lei terá que ser validada, tem hoje uma maioria de direita que não está disposta a mexer em nenhuma vírgula do texto atualmente em vigor, aprovado após décadas de duras negociações.
Mas não convém facilitar e subestimar os argumentos persuasivos que virão do poder executivo para impor sua vontade.
É nesse cenário que veremos, daqui pra frente, um embate crucial entre a agenda do atraso ressuscitada pela volta do PT à presidência da República e a agenda da modernidade que luta bravamente para colocar Brasil em consonância com o mundo desenvolvido.
Filho de uma das mais tradicionais famílias de Toledo, de onde saiu anos atrás para construir uma bem-sucedida trajetória profissional no Mato Grosso, chegando a ocupar o cargo de Secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia no governo Blairo Maggi e a presidência da Federação das Indústrias daquele estado, Alexandre Furlan é o atual vice-presidente para a América Latina da Organização Internacional dos Empregadores (integrada por 143 países) e representante da CNI na Organização Internacional do Trabalho, ambas com sede em Genebra, na Suíça.
A entrevista com ele, em que tratamos desse e de outros temas, vai ao ar no dia 5 de agosto na TV Tarobá.