Pedras nos trilhos
Atrair capitais nacionais e estrangeiros para disputar o leilão da Nova Ferroeste, levando em conta o promissor potencial de exploração econômica da linha férrea de 1.500 km planejada para ligar a cidade sul-mato-grossense de Maracaju ao Porto de Paranaguá, com ramais para Foz do Iguaçu e Chapecó a partir de Cascavel, deverá ser a menor das dificuldades para a sua concretização, como tem sido demonstrado nas reuniões que o governador Ratinho Junior vem mantendo com possíveis investidores no Brasil e no exterior.
Há outros três obstáculos muito mais complexos, que ganharam dimensão ainda maior com a volta do PT e de seus aliados de esquerda ao governo federal, elevando a régua das restrições a serem impostas daqui pra frente a grandes empreendimentos de infraestrutura, que precisam ser superados para que a sonhada ferrovia, orçada em mais de 40 bilhões de reais, saia efetivamente do papel.
O primeiro deles é o sempre complicado licenciamento ambiental, que, como se viu agora quando o Ibama vetou a perfuração de poços petrolíferos da Petrobras na foz do Rio Amazonas, confrontando os interesses do próprio Palácio do Planalto e resistindo a fortes pressões políticas, não deve ser obtido tão facilmente, muito pelo contrário.
Depois, terá que passar pela validação da Funai, que certamente não hesitará em proibir atividades construtivas em áreas onde houver o mínimo sinal de presença atual ou antiga de comunidades indígenas, entrando nessa investigação até vestígios de fogueiras que em priscas eras foram eventualmente acendidas ao longo do traçado previsto para a estrada.
Ao mesmo tempo entrará em cena o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para averiguar se existe no caminho ou em suas imediações a ocorrência de cavernas, grutas e sítios com algum valor arqueológico passíveis de tombamento, já sabendo-se que, por um levantamento prévio realizado recentemente, contaram-se mais de 40 locais que podem se encaixar nos critérios de preservação e impedir a execução da obra.
Apesar desse cenário pouco animador, integrantes da alta cúpula do Palácio Iguaçu, ao menos em público, seguem otimistas e confiantes de que essas etapas, ainda que sejam extremamente desafiadoras, serão ultrapassadas.
Mas em conversas reservadas já não escondem um profundo pessimismo com o futuro do projeto.
2 comentários
Nilso · 29/05/2023 às 19:43
A esperança é a última que morre. Oxalá o atual governo que na Região Sul veio perdendo credibilidade na última década, se de conta que a ampliação da malha ferroviária na região, seja um privilegiado argumento de recuperação política regional. Basta usar os lucros da Itaipu no custeio desta obra e demonstrar que o PT quer o desenvolvimento e provar que também não é contra o agronegócio.
Romildo Mousinho Ferreira · 29/05/2023 às 17:12
Condenados à estagnação e ao atraso, por causa da cegueira monumental de meia dúzia de “iluminados”, sabe-se lá por qual fonte de luz.