Olha o que vocês fizeram
Demorou, mas eis que vejo, finalmente, nomes destacados da imprensa nacional tomando coragem para pedir um basta ao sistemático avanço autoritário do Supremo Tribunal Federal contra a liberdade de expressão, denunciado desde sempre por este blog.
Embora bons motivos para essa reação já se avolumem há meses, o estopim para a repentina mudança de comportamento foi a determinação do ministro Alexandre de Moraes para que o Telegram apagasse a mensagem enviada aos usuários com críticas ao projeto de lei das Fake News e enviasse outro texto, de autoria do próprio magistrado, em que o aplicativo assume que “distorceu fraudulentamente a discussão e os debates sobre a regulação dos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada, na tentativa de induzir e instigar os usuários a coagir os parlamentares.”
Ou seja, o Telegram foi proibido de expor sua opinião sobre o tema e obrigado, com requintes de humilhação, a divulgar a opinião do ministro. A censura não é mais apenas uma ameaça à nossa espreita ali na esquina. Ela já está em vigor no país.
Alarmados com o episódio, renomados jornalistas e os veículos onde trabalham começaram a perceber que também estão sujeitos a sofrer a qualquer hora o mesmo cerceamento em suas atividades profissionais e descobriram, talvez tardiamente, que podem pagar caro por terem fechado os olhos, e muitas vezes até aplaudido, as arbitrariedades cometidas pelo STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, praticamente impedindo-o de governar na plenitude de suas atribuições constitucionais.
Cúmplice ou covarde, o silêncio dos homens e mulheres da grande mídia alimentou um monstro que tomou gostou pelo exercício absoluto do poder e não quer mais abrir mão dele, colocando em grave risco a democracia brasileira.
Soltaram da garrafa o gênio da tirania de toga e agora não sabem como colocá-lo de volta.
Nunca foi tão atual o poema sombrio escrito por Eduardo Alves da Costa: “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”
Qualquer semelhança com os tempos tenebrosos em que vivemos não é mera coincidência.
2 comentários
Wálter Venson · 13/05/2023 às 22:25
Parabens Caio ! Arrojado e destemido, tenho orgulho de ser teu amigo ! E , claro , fan de carteirinha de tuas posições, inteligentes e atuais !
Força Irmão , um forte abraço !
Elias Klaime · 13/05/2023 às 16:16
Parabens Caio. Bela ilustração sobre a nossa combalida e ultrajada democracia.