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Eles podem tudo. Até quando?

Publicado por Caio Gottlieb em

Era mais do que esperado que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que não demonstra o menor apreço pela compostura exigida dos que ocupam a função, aproveitasse o palco do “Roda Viva”, transmitido pela TV Cultura de São Paulo na última segunda-feira (8), para, mais uma vez, atacar a Lava Jato.

Logicamente, ele não perderia a oportunidade de expor a notória e compulsiva ojeriza que nutre, por motivos ainda desconhecidos, tanto pela operação que descobriu a roubalheira na Petrobras como por aqueles que conduziram as investigações e os processos criminais contra os envolvidos, a tal ponto de não ter descansado enquanto não conseguiu, com o apoio da maioria dos colegas da Corte, colocar em liberdade os principais membros da quadrilha e anular suas sentenças condenatórias.

Cabem aqui algumas indagações: teria o ilustre integrante do STF raiva da Lava Jato por ela ter desvendado o maior esquema de corrupção de todos os tempos no país, confirmada por mais de uma dezena de magistrados de três instâncias judiciais?

Por um acaso, sua fúria contra o deputado federal Deltan Dallagnol seria porque, contando com o apoio de dezenas de promotores de Justiça e policiais federais, o então procurador da República coordenou a força-tarefa que desbaratou o conluio e denunciou os ladrões?

E a sua ira contra o senador Sergio Moro? Seria, talvez, porque o então juiz federal, amparado em provas insofismáveis, mandou prender e condenou os figurões da política e os grandes empreiteiros que compunham a organização criminosa que surrupiou bilhões de reais dos cofres da companhia petrolífera e de outras estatais?

São perguntas que estão pairando no ar.

O problema é que na dita entrevista o ódio doentio de Gilmar contra a emblemática operação e os personagens da história que se perfilam ao lado da lei passou longe dos limites e o levou a insultar toda a população de Curitiba e, por extensão, do Estado que sediou a operação e tem por ela o maior orgulho.

Eis o que ele vociferou durante o programa ao referir-se à Lava Jato: “Curitiba gerou Bolsonaro, Curitiba tem o germe do fascismo. Inclusive todas as práticas que desenvolvem, investigações a sorrelfa [dissimulação silenciosa para iludir], investigações atípicas, não precisa dizer mais nada.”

Por seu repulsivo destempero verbal, o ministro recebeu veementes manifestações de repúdio de lideranças políticas e empresariais de todo o Estado.

Um dos dois alvos diretos da ofensa, ao lado do senador Sergio Moro, o deputado Deltan Dallagnol reagiu nas redes sociais postando uma nota da qual destaco alguns trechos: “Gilmar Mendes nunca respeitou a liturgia do cargo, vedações da lei da magistratura, regras de suspeição, distanciamento dos réus nem compreendeu o papel do combate à corrupção para a preservação da democracia. Enquanto procura falhas na Lava Jato, o ministro tenta coar agulhas, mas engole camelos, votando sistematicamente em favor da absolvição e anulação de sentenças de corruptos, contra os votos técnicos de ministros como Edson Fachin. O ministro destila um ódio que mostra o que há em seu coração. Sua mensagem é perversa e avessa ao que é justo, moral e ético. Suas palavras ilustram a inversão de valores que injuriam os brasileiros. Há muitas questões que o ministro Gilmar precisa responder: o senhor já ligou para redações pedindo a cabeça de jornalistas? Já ligou para universidades pedindo a cabeça de acadêmicos cujo trabalho lhe desagradou? Já ligou para políticos para fazer indicações? Ligou para ministros de outros tribunais para influenciar votos? Minha luta não é contra o ministro Gilmar, mas é a favor das pessoas e do que é certo, por amor. Seguirei em frente buscando servir às pessoas e cumprir um propósito de vida maior de amor ao próximo. Seguirei lutando contra a corrupção e a injustiça, ainda que isso exija me posicionar contra a atitude de poderosos que tentam mandar no Brasil.”

Moro foi mais curto e objetivo: “Não tenho a mesma obsessão por Gilmar Mendes que ele tem por mim. Combati a corrupção e prendi criminosos que saquearam a democracia. Não são muitos que podem dizer o mesmo neste país.”

Mesmo sendo mais diplomático, o governador Ratinho Junior também não deixou de criticar o magistrado do STF: “O ministro Gilmar Mendes certamente vai esclarecer uma fala infeliz, que ataca gratuitamente Curitiba e os paranaenses. O Paraná é terra de gente trabalhadora, que tem como norte o progresso, a lei e que repudia a corrupção e toda e qualquer forma de intolerância e preconceito.”

Algumas horas depois, sem pedir desculpas formais, Gilmar tentou reparar o desprezível comentário escrevendo nas redes sociais que “jamais quis ofender o povo curitibano. Não foi Curitiba o gérmen do fascismo; foi a assim chamada ‘República de Curitiba’ (Operação Lava-Jato e os juízes responsáveis por ela na capital paranaense).”

Nem precisava se dar ao trabalho. Quem, afinal, irá processá-lo sob a acusação de injúria, calúnia, difamação, ou crime que o valha, por quaisquer de suas abomináveis declarações? No Brasil dos dias funestos em que vivemos, Gilmar não está acima da lei. Ele e seus colegas do STF são a própria lei.

Categorias: OPINIÃO

3 comentários

Daury Augusto · 11/05/2023 às 12:26

Germes falam de germes, os crápulas da cúpula que norteiam as leis do país à seu bel prazer, já não escondem mais o ranço pela justiça, outrora praticada pelos “caçadores” de corruptos e que tanto incomodam a figura desse ilustre desafeto do povo brasileiro, essa carranca estampada na figura desse ser desprezível caracteriza a foto do falido sistema nefasto da injustiça praticada pela corte real dos senhores marsupiais da capa preta. Com certeza eles vão passar; do pó vieram e ao pó voltarão, certamente dividirão espaço na tumba dos vermes que corroem a carcaça dos humanos pútridos que habitaram essa terra.

José A Dietrich Fh · 10/05/2023 às 23:45

Com essa centralização em torno do STF sobre tudo o que acontece no Brasil, resultado da falácia do Ulisses Guimarães de que se tratava da Constituição Cidadã, temos hoje um judiciário legislador. A CF virou um Regimento de Condomínio. Tudo pode tudo decide, inclusive legislar.

Leandro Salomão · 10/05/2023 às 21:32

Nada de novo. É um juiz com vários casos suspeitos de corrupção e sendo os sócios do mesmo no IDP, notorios lobistas e vendedores de decisões judiciais maocumunado com a esposa dele ( dra Guimar) advogada e sócia da banca de advogados que atua no submumdo do judicario, defendendo todos os criminosos e golpistas do erário seja na esfera criminal ou cívei nos Tribunais Superiores e onde mais puder impor pressão e influência.
Até o pessoal do porão do Jaburu, tornou-se, cliente dela. Imagina se perdem alguma pendenga lá em Brasília?

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