Trocando em miúdos
Escrito de uma forma bastante didática, apropriada para o entendimento de leigos no assunto, como é o meu caso e creio ser também da maior parte dos leitores do blog, um artigo do economista e consultor Carlo Barbieri lança luzes sobre a recente quebra de três bancos norte-americanos e traz outras considerações em torno do episódio.
Natural de São Paulo, ele vive há quatro décadas em Boca Raton, na Flórida, e fala com autoridade sobre o tema respaldado pelo profundo conhecimento adquirido nas relações profissionais que mantém com o sistema bancário dos Estados Unidos, fruto da grande experiência acumulada no comando de uma renomada empresa que presta serviços de assessoria financeira para brasileiros que desejam investir no país.
Para começo de conversa, Barbieri esclarece que, embora o evento em foco tenha assustado o mundo pelo temor da repetição do terremoto financeiro global provocado em 2008 pela falência do Leman Brothers, o fechamento de bancos em si não chega a ser uma novidade por lá.
Nos últimos 100 anos, o declínio no número de instituições financeiras nos Estados Unidos tem sido uma constante, especialmente pela perda de espaço e competividade dos bancos regionais, um fenômeno que deve se acentuar ainda mais.
Em 1920, existiam no país cerca de 31 mil casas bancárias. Já em meados da década de 1960 eram pouco mais de 13 mil. Em 2022, elas somavam 4.200. Ou seja, está em curso uma inexorável tendência de concentração no setor.
Porém, o que houve agora foi uma crise isolada que pode ser explicada pela conjunção de sete motivos principais:
1. Executivos bancários, na sua maioria novatos, sem preparo e experiência para lidar com situações inusitadas, inesperadas e complexas.
2. Alta abrupta da inflação.
3. Taxas de juros do FED (o banco central norte-americano), que tangenciavam zero por cento, repentinamente saltaram para 5%.
4. As carteiras de títulos do tesouro, que davam segurança às instituições na gestão dos recursos de seus clientes, tiveram seu valor derretido em face do aumento dos juros.
5. As carteiras de aplicação desabaram com as bolsas de valores.
6. Os ativos em startups revelaram não ter a liquidez prometida, agravada pela discordância do mercado em aceitar as cotações a elas atribuídas.
7. Também as criptomoedas, com participação considerável nas reservas dos bancos, não resistiram à desconfiança generalizada e acabaram desvalorizando fortemente.
Todos esses fatores somados, turbinados na internet pela rápida disseminação de informações alarmantes, ensaiaram levar correntistas apavorados a uma corrida às instituições para sacar suas economias, o que foi contido pela pronta ação das autoridades monetárias garantindo integralmente todos os depósitos e evitando o pior.
Mas o cenário ainda é preocupante porque tem mais de 200 bancos americanos enfrentando dificuldades similares, embora a situação deles esteja relativamente sob controle.
Barbieri também aponta problemas latentes de inadimplência em grandes bancos de países asiáticos que podem vir à tona nos próximos meses, mas o que tranquiliza é a certeza de que os governos locais têm bala na agulha para, se necessário, socorrê-los.
O fato é que bancos são entidades extremamente sensíveis. Vivem da crença dos clientes de que o seu precioso dinheirinho está bem guardado e aplicado.
Entretanto, por maior e mais sólido que seja, nenhum deles consegue suportar uma corrida aos seus caixas em grande escala, já que boa parte dos recursos que administram está em empréstimos e investimentos de longo prazo.
Confiança, nesse negócio, é um ativo fundamental, que o menor ruído pode romper da noite para o dia.
Nunca é demais deixar sempre as barbas de molho.
1 comentário
Leandro Salomão · 24/04/2023 às 15:16
Spot on!
A leitura do contexto e do cenário exposta pelo Carlos Barbire, está na mesma direção adotada pelos grandes players, investodes e gestores americanos e overseas-
Há fundamentos para uma crise (“sistemica”) no setor bancário Norte Americano que dragaria o mumdo todo.
Um destes sinais emitidos pelos mercados ê a inversão da curva de juros nos Tresaury americanos e a recolocação dos players no tabuleiro:
“It Is a game”
Wellcome to the Jugle.