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Bloco de Notas – O dia seguinte

Publicado por Caio Gottlieb em

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Costuma-se dizer que a voz do povo é a voz de Deus. Descobri nestas eleições para a presidência da República que nada é mais falso do que esse velho dito popular. Se a vontade do Criador realmente se manifestasse nas urnas, os brasileiros não teriam eleito para comandar o país o líder da organização criminosa que perpetrou a maior roubalheira da história da nação e que resultou em sua própria condenação, em três instâncias judiciais, a mais de 12 anos de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Não joguem essa carga nas costas do Criador. Ele não tem nada a ver com as escolhas equivocadas que homens e mulheres fazem em suas vidas. Quem pariu Mateus, que o embale.

2

Pode-se lamentar, gritar, berrar, protestar, chorar, mas a escolha dos governantes nas democracias, gostemos ou não, é regida por um preceito básico: leva quem faz mais votos. Já o sentimento de frustração de quem perdeu pode ser consolado pela famosa e incontestável frase de Winston Churchill: “A democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras já experimentadas ao longo da história.” Afinal, apesar de todos os seus defeitos, só os regimes democráticos, desde que legítimos, permitem a necessária e saudável alternância de poder periodicamente programada. Ou seja, daqui a quatro anos tem mais.

3

É verdade que o ativismo político do judiciário e a perseguição implacável da grande mídia prejudicaram imensamente o governo e a batalha de Bolsonaro pela reeleição, mas é preciso também refletir sobre os erros que ele próprio cometeu no decorrer do mandato e durante a campanha, fatores que contribuíram significativamente para o seu insucesso nas urnas. Não se pode terceirizar inteiramente um fracasso eleitoral. Sempre há uma boa dose de culpa em casa.

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Nem foi um triunfo retumbante e muito menos uma derrota acachapante. Aliás, é uma vitória tão magra que chega a ser constrangedor vê-la ser festejada. O fato é que o resultado eleitoral mais apertado da história política do país coloca Lula diante da dura realidade de saber que metade da população preferia o seu adversário e frente ao dever, como vencedor, de buscar a pacificação nacional, desarmando espíritos e desfazendo rancores, tendo a ciência de que o sucesso de sua administração dependerá da habilidade de negociar (espera-se que em termos republicanos) com o novo Congresso Nacional formado majoritariamente por aliados de Bolsonaro e contrários às pautas petistas. Perto do desafio hercúleo de alcançar a governabilidade nesse ambiente hostil, ganhar a eleição foi mais fácil do que tirar doce da boca de criança.

5

Em seus discursos na noite de domingo, Lula destacou os principais apoios que recebeu de fora dos quadros do PT para vencer o pleito, mas cometeu uma lamentável omissão: esqueceu de agradecer a inestimável ajuda dos companheiros do Supremo Tribunal Federal. Se não fosse pelos ilustres magistrados, que urdiram a maquiavélica anulação dos processos da Lava Jato, embora não tenham absolvido e nem inocentado o petista dos crimes, ele não poderia nem ter sido candidato. Que ingrato.

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Por falar no STF, o ministro Luís Roberto Barroso, que cultiva o costume de indicar semanalmente dicas de livros a seus seguidores nas redes sociais, postou na sexta-feira, a menos de 48 horas da eleição, o samba “Já vai tarde”, do grupo Mania Ser. Ninguém teve a menor dúvida de que tratou-se de uma estocada em Bolsonaro, com quem Barroso protagonizou inúmeros embates jurídicos e verbais nos últimos quatro anos. Nada poderia ser mais revelador da isenção e da imparcialidade com que atua a nossa Corte suprema.

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Os 60 milhões de eleitores que entregaram o país pela terceira vez a Lula, fazendo vistas grossas para os monumentais escândalos de corrupção do Mensalão, Petrolão e outros mais que permearam os 14 anos de governos petistas, culminando em centenas de prisões e devolução de bilhões de reais da dinheirama roubada, mandaram uma mensagem clara, cristalina e definitiva para o mundo: o crime, no Brasil, compensa. E recompensa.

Categorias: OPINIÃO

1 comentário

Giovana TOIGO Adami · 31/10/2022 às 23:12

L👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏 Bravo!!!! Em poucas palavras falou tudoooo!!!!! Parabéns, Caio.

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