Sem o menor pudor
Para surpresa de ninguém, e sob o olhar complacente e resignado de uma sociedade que, infelizmente, já se acostumou com o império da impunidade em que se transformou o Brasil, o Supremo Tribunal Federal, pelas mãos do ministro Ricardo Lewandowski, liberou Lula da última ação que corria contra ele na Justiça.
Meio esquecido pela opinião pública, o processo em tela dizia respeito às denúncias de corrupção na compra dos caças suecos Gripen e envolvia o ex-presidente em acusações de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Para invalidar o procedimento, Lewandowski baseou-se em mensagens normais e legais trocadas entre membros da Lava Jato, pirateadas e vazadas por hackers ao invadirem os celulares dos integrantes da operação, que revelariam, no entendimento dele, uma conduta imparcial dos procuradores visando a condenação do investigado, argumento recorrente, manjado e fajuto usado fartamente pelo STF para livrar o petista das garras da lei em outras falcatruas similares.
Nem vale a pena perder tempo debatendo o fato claro e cristalino de que a função constitucional dos promotores é justamente buscar provas para condenar o réu, cabendo a seus advogados o papel de defendê-lo e fim de papo.
Não é o caso, também, de discutir se Lula é culpado ou inocente, até mesmo porque o próprio ministro não entrou nesse mérito para tomar sua decisão.
O que importa é perguntar: é de isenção, então, que estamos falando?
Se for isso, é preciso lembrar que o ilustre magistrado, depois de ter militado por longos anos na advocacia em favor dos sindicatos de trabalhadores ligados ao PT, foi premiado por Lula, ainda em seu primeiro governo, com a nomeação para a alta Corte.
Em tais circunstâncias, qualquer juiz provido de um mínimo de espírito ético e cioso da reputação do cargo que ocupa se declararia suspeito e abdicaria de atuar na causa.
Lewandowski, obviamente, não se enquadra nessa categoria.