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Amor à cultura, devoção ao governo — e fatura ao contribuinte

Publicado por Caio Gottlieb em

Ah, o amor! Esse sentimento tão puro, desinteressado e… lucrativo? Pois é, parece que no Brasil, especialmente no mundo das artes, o amor pelo governo tem uma cotação bem alta.

Entre janeiro e março deste ano, a captação de recursos via Lei Rouanet atingiu a marca de 302 milhões de reais, um salto de quase 70% em relação ao mesmo período do ano passado.

Coincidência ou não, esse recorde acontece justamente no terceiro mandato de Lula. O mesmo Lula que, em suas duas primeiras passagens pela presidência, já havia conquistado o coração — e os bolsos — de inúmeros artistas. Agora, com a torneira da cultura aberta novamente, é natural que os aplausos ecoem ainda mais fortes.

Sejamos realistas: quem não apoiaria um governo que transforma impostos em incentivos culturais generosos? É o tipo de relação simbiótica onde todos saem ganhando: o presidente ganha apoio cativo, os artistas ganham financiamento e o público… bem, o público ganha espetáculos repletos de gratidão governamental.

Em 2024, a Lei Rouanet já havia batido recordes, com mais de 3 bilhões de reais destinados a projetos culturais. E tudo indica que 2025 seguirá o mesmo roteiro.

Com números tão expressivos, fica fácil entender por que tantos artistas entoam loas ao atual ocupante do Palácio do Planalto. Aliás, como diz o ditado, “não se morde a mão que te alimenta” — especialmente quando ela alimenta tão bem.

E se a Lei Rouanet já não fosse suficiente para manter o afeto em alta, as estatais entram como patrocinadoras de estimação. A cereja do bolo veio com o anúncio de que os Correios, uma empresa pública em crise, desembolsaram 2 milhões de reais para patrocinar a turnê de despedida de Gilberto Gil.

Não se trata de implicância com o artista, mas de uma constatação indigesta: a estatal está insolvente, devendo aluguéis, plano de saúde de funcionários, sem caixa para manter serviços básicos — mas, curiosamente, tem verba para aplaudir camarote e bancar microfone.

E enquanto o contribuinte comum continua pagando a conta no carnê do leão, a celebridade engajada brinda com champagne francês e discurso militante.

Afinal, como é comum no meio artístico, dinheiro graúdo compra até amor verdadeiro.

Categorias: OPINIÃO

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