A Lava Jato acabou: palmas para a justiça brasileira
E eis que, num gesto de generosidade exemplar, o ministro Dias Toffoli resolveu dar sua contribuição definitiva para a concórdia e a felicidade nacional: anulou todas – sim, TODAS – as provas e processos contra o ex-ministro Antônio Palocci na operação Lava Jato.
Isso mesmo, você não leu errado.
Agora, finalmente, o ciclo está completo, e a justiça brasileira, sempre tão célere e justa, garantiu que ninguém, absolutamente ninguém, tenha que carregar o fardo de ser condenado por corrupção neste país.
Toffoli, com seu olhar atento e coração sensível, percebeu a grande injustiça que foi cometida contra Palocci, o pobre ex-ministro de Lula e Dilma, que, ingenuamente, apenas admitiu ter coordenado o repasse de mais de R$ 333 milhões em propinas.
Um mal-entendido, obviamente.
Afinal, quem nunca entregou uma sacolinha de dinheiro em mãos para o chefe, não é mesmo? Coisas da rotina de Brasília.
Nada mais justo, claro, do que estender a Palocci, ilustre fundador do PT, o mesmo tapete vermelho que já foi devidamente desenrolado para Lula, Marcelo Odebrecht, Raul Schmidt, Léo Pinheiro e companhia limitada. Um verdadeiro desfile de inocência – todos absolvidos ou com processos anulados, como se nunca tivessem se envolvido em escândalos bilionários. Um show de pureza.
O ministro Toffoli, sempre tão imparcial, também nos presenteou com a pérola de que o método usado por Sérgio Moro e os procuradores da Força-Tarefa de Curitiba teria “prejudicado” Palocci. Uma grande tragédia, sem dúvida. Imaginem só, um réu confesso sendo… julgado! Que horror.
Agora, com a anulação desse último processo, podemos respirar aliviados.
A Lava Jato, essa farsa que ousou incomodar a tranquilidade dos poderosos, finalmente descansa em paz. Todos os envolvidos seguem livres, leves e soltos, prontos para escrever novos capítulos dessa comédia de erros chamada política brasileira.
E a nós, reles mortais, resta admirar tamanha eficiência da Justiça – um espetáculo de imparcialidade, um verdadeiro exemplo para o mundo.
No Brasil, ninguém é culpado, a não ser, claro, aquele cidadão comum que atrasa o IPTU.
E, como cereja no topo desse bolo de impunidade, a Transparência Internacional – sempre tão exagerada em seu compromisso com a integridade – teve a audácia de expressar sua indignação diante desse espetáculo de ‘justiça’.
Diz a entidade que a decisão de Toffoli “abala, gravemente, a confiança da sociedade no STF”.
Vejam só, que drama!
Mas ela foi além em seu atrevimento: afirmou ainda que a anulação em série de condenações de corruptos confessos representa uma ameaça real ao Estado Democrático de Direito no Brasil.
Que falta de solidariedade com as dores desses ‘injustiçados’ milionários que, coitados, só estavam tentando fazer seu trabalho sujo em paz.
Enfim, enquanto o mundo observa chocado mais um capítulo da nossa novela jurídica, seguimos por aqui, celebrando a eficiência e a imparcialidade que só a justiça brasileira consegue entregar – com o selo de qualidade de sempre.