A morte da velha imprensa
Há quem atribua a decadência do jornalismo impresso, fenômeno que ocorre em escala global, unicamente à inevitável transformação no consumo da informação que adveio do surgimento das novas tecnologias na área da comunicação social.
É fato que a rápida e avassaladora ascensão das mídias digitais levou os leitores a migrarem em massa para plataformas mais velozes, acessíveis e interativas, deixando para trás os jornais e revistas como sua principal fonte de notícias.
Sites, blogs, redes sociais e aplicativos oferecem atualização em tempo real e conteúdos personalizados a preços baixíssimos, quando não de graça, enquanto os veículos que utilizam o papel como matéria prima, com tiragem e circulação despencando pelas tabelas, vão sendo sufocados por altos custos industriais.
Basta ver, aliás, a quantidade de publicações famosas, até centenárias, que não conseguiram enfrentar a concorrência do mundo virtual e foram obrigadas a sair de cena.
Nessa mesma toada, a internet permitiu que se democratizasse a produção e a difusão da informação, fragmentando o monopólio das grandes redações que ditavam os rumos da opinião pública conforme seus próprios interesses.
Mas existe um motivo ainda mais importante para a perda de relevância do jornalismo impresso, que acabou contaminando até suas versões online.
Em editorial que escreveu para o The Washington Post, um dos mais tradicionais diários dos Estados Unidos, que ele comprou anos atrás para salvar da falência, o bilionário Jeff Bezos, dono da Amazon, fez uma exemplar autocrítica sobre o mal que está destruindo os jornais, inclusive o seu.
Com o título “A dura verdade: os americanos não confiam na mídia”, revelador por si só, o artigo de Bezos vai direto na veia: “A maioria das pessoas acredita que a mídia é tendenciosa. Qualquer um que não veja isso está prestando pouca atenção à realidade, e aqueles que lutam contra a realidade perdem. A realidade é uma campeã invicta. Seria fácil culpar os outros por nossa longa e contínua queda de credibilidade (e, portanto, declínio de impacto), mas uma mentalidade de vítima não ajudará. Reclamar não é uma estratégia. Devemos trabalhar mais para controlar o que podemos controlar para aumentar nossa credibilidade.”
Mais adiante, ao concluir seu corajoso mea culpa, ele reconhece que “a falta de credibilidade não é exclusiva The Post. E é um problema não apenas para a mídia, mas também para a nação. Muitas pessoas estão se voltando para podcasts improvisados, postagens imprecisas de mídia social e outras fontes de notícias não verificadas, o que pode espalhar rapidamente desinformação e aprofundar as divisões. O Washington Post e o New York Times ganham prêmios, mas cada vez mais falamos apenas com uma certa elite. Cada vez mais, falamos com nós mesmos.”
Pensei imediatamente nos nossos conhecidos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estadão, assim como na revista Veja, na Rede Globo e na Globonews. Você não pensou também?