Um brasileiro no topo do mundo do vinho
Embora esteja longe de figurar entre os países que fazem os melhores vinhos, e apareça apenas no 14° lugar no ranking dos maiores produtores, o Brasil tem um mestre no assunto respeitado mundialmente.
Residindo na Inglaterra há três décadas, Dirceu Vianna Junior integra o seleto time de 389 especialistas formados desde 1955 pelo renomado The Institute of Masters of Wine, sediado em Londres.
Único brasileiro e representante da língua portuguesa no grupo, ele ganhou as famosas “páginas amarelas” da Veja, a prestigiosa seção de entrevistas da revista, para compartilhar na edição da semana passada um pouco de seus conhecimentos.
Destaquei seis pontos:
Sobre a ideia ideia de que vinho bom é vinho caro. Isso é verdade?
“Não. O que mais importa nessa relação entre preço e qualidade é a finalidade do vinho. Para comer pizza e conversar, um vinho funcional, mais em conta, cumpre o papel. Mas, se o consumidor quer uma experiência diferente, degustar algo especial, uma bebida mais cara se adéqua melhor. É importante, entretanto, lembrar que vinho ruim faz mal à saúde, portanto é preciso cuidado quando a escolha se dá unicamente tendo o preço como referência. Meu maior prazer como consultor é descobrir vinhos com excelente custo-benefício, que poderiam valer cerca de cinco vezes mais”.
No Brasil, costuma-se dizer que o que impede o crescimento do consumo de vinho é o preço. Como é possível popularizar a bebida sem comprometer a qualidade?
“Em vários países, o vinho é considerado alimento, enquanto no Brasil é classificado como artigo de luxo. A consequência vem na forma de alta incidência de impostos. O governo tem sua parte de culpa no jogo — nesse aspecto, as empresas de cerveja são muito mais poderosas. Outro fator relevante é a elevada margem de lucro das importadoras. É fato que produtores e importadores pagam valores altos em tributos, mas também poderiam ir além de apenas culpar os impostos. Se analisarmos a margem de lucro dos produtores no Chile ou dos distribuidores de vinho na Inglaterra, veremos que seus equivalentes no Brasil têm porcentuais de ganho mais elevados”.
Qual sua opinião sobre o setor vinicultor brasileiro?
“Há pessoas sérias, que fazem um excelente trabalho, mas não é algo consistente. Eu me orgulho algumas vezes de colocar uma garrafa brasileira na frente de meus amigos estrangeiros. Mas poucas vinícolas são de fato boas, não consigo encher uma mão. Se fosse pela vontade dos produtores, o mercado brasileiro seria restrito e fechado. Além disso, alguns expõem nas garrafas medalhas recebidas em competições que não têm relevância e acabam iludindo quem as compra. Para o bem dos produtores e do consumidor, o importante seria educar o brasileiro a beber com simplificação, e não tornando o processo ainda mais complicado. Ao não fazermos isso, estamos privando o consumidor de uma experiência. Cada vez que se abre um vinho, é uma viagem”.
O que é preciso para melhorar a qualidade do vinho nacional?
“Humildade e intercâmbio de conhecimento. Estudo todos os dias, sei que não sei tudo e continuo estudando. Quantas conferências técnicas se veem no Brasil em regiões produtoras com enólogos, Masters of Wine, pessoas que realmente conhecem? Por que não trazem? Será que eles já sabem tudo?”.
Se eu pedisse ao senhor que abrisse um tinto, um branco e um espumante brasileiro bons, quais seriam?
“O espumante seria da Geisse, o branco da Pizzato e o tinto da Guaspari”.
Se o mundo fosse acabar amanhã e o senhor pudesse tomar uma última taça, de qual vinho seria?
“Essa é uma pergunta difícil. Acho que seria um Romanée-Conti da safra 1990”.
Como Master of Wine, Dirceu desenvolve atualmente diferentes projetos em empresas de sete países, é consultor para a seleção de bebidas do clube Manchester United e embaixador dos vinhos de Portugal.
Para quem não sabe: ele é paranaense de Marechal Candido Rondon, onde passou a infância e a adolescência e onde ainda vive boa parte de sua família, com expressiva participação na vida social e empresarial da cidade.
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