L’État, c’est moi
(Luís XIV, Rei da França)
Era uma vez um inquérito policial instaurado a mando do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, com o objetivo de punir membros de uma família de brasileiros com os quais se envolveu em um bate-boca, em julho do ano passado, no aeroporto de Roma, acusando um deles de ter dado um safanão em seu filho.
Depois de buscar por meses, sem sucesso, ao menos uma prova da suposta agressão física que lhe permitisse enquadrar criminalmente os pobres mortais que ousaram criticar o todo-poderoso magistrado por suas conhecidas arbitrariedades e seu deplorável ativismo político-judicial, o delegado da Polícia Federal Hiroshi Sakai, responsável pela condução do procedimento, entendeu que teria havido, no máximo, uma “injúria real”, delito considerado de baixo potencial ofensivo, e resolveu, movido pela razão e pelo bom senso, encerrar as apurações sem recomendar nenhum indiciamento.
Fim da história? Não.
Solidária com o inconformismo e a irritação de Moraes diante do desfecho do episódio, a Procuradoria-Geral da República, mesmo não havendo qualquer elemento novo para ter como justificativa, pediu a continuidade e o “aprofundamento” das investigações, no que foi, para surpresa de ninguém, imediatamente atendida pelo ministro Dias Toffoli, relator do caso.
Mas não bastava só reabrir o inquérito. Era preciso garantir um novo final, que fosse do agrado de Moraes.
Para tanto, providenciou-se de pronto a troca do delegado, saindo Hiroshi e entrando seu colega Thiago Severo de Rezende, que, sem pestanejar, decidiu, no início de junho, indiciar os desafetos do intocável xerife do STF pelo crime de “calúnia com agravante de ter sido cometido contra um funcionário público em virtude de sua atuação”.
Menos de um mês antes, por curiosa coincidência, Rezende foi designado para exercer o cargo de oficial de ligação junto à Europol (Agência da União Europeia para a Cooperação Policial), em Haia, na Holanda, por um período de 2 anos.
Dizem as más línguas que a cobiçada sinecura, remunerada com gordo salário em dólares, teria sido um prêmio, pago antecipadamente, pelos bons serviços que ele foi escalado para prestar.
Pode ser apenas um boato maldoso espalhado por gente invejosa, mas que ficou algo muito suspeito no ar, ficou.
De qualquer modo, o destino dos detratores do ministro, a esta altura dos acontecimentos, é serem condenados, ainda que com penas leves, pela audácia de terem lhe dito alguns impropérios, pouco importando que eles também tenham sido insultados por Moraes e seu filho no barraco protagonizado pelo grupo na capital italiana.
O fato é que Xandão usa o peso de instituições do Estado não para fazer justiça, mas para desfrutar de uma abjeta vingança pessoal que servirá de lição para que outras pessoas não se atrevam a molestá-lo.
Resumo da ópera: o Brasil é um país onde todos são iguais perante a lei, com exceção, é claro, dos juízes autocratas da Suprema corte, que são mais iguais do que os outros.
2 comentários
Osvaldo Zaniolo · 27/06/2024 às 17:25
Paciência! Deus cuidará deles. Não há mau que sempre dure e nem bem que nunca se acabe. Com 75 anos modestamente vividos fui testemunha da ascensão e queda brava de muitos valentões. Tenho muita dó do srm Ministro.
José Razini · 27/06/2024 às 13:01
Só matando