Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o nosso site e as páginas que visita. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com o monitoramento descrito em nossa Política de Privacidade.

A culpa dos outros

Publicado por Caio Gottlieb em

Por Alexandre Schwartsman*

Embora o presidente insista que “a única coisa desajustada que há no país” seja o comportamento do Banco Central, a realidade discorda veementemente.

Pelo contrário, o comportamento do BC, que tanto desagrada a Lula, reflete principalmente os muitos desajustes produzidos por seu governo.

A começar pelo descontrole do gasto público, mesmo rebatizado como “investimento” pelo Oráculo de Garanhuns.

A chamada “PEC da transição” não só permitiu um aumento de gastos muito acima do necessário para acomodar o Bolsa-Família “vitaminado”, como também — por intenção ou incompetência —revogou a regra que vinculava gastos com saúde e educação à inflação, indexando-os à evolução da receita e tornando o orçamento federal ainda mais rígido.

Já a política de elevação do salário-mínimo acima da inflação e o desenho ruim do Bolsa-Família, dentre outras medidas, levaram à maior expansão da história das despesas recorrentes do governo federal.

O corolário desta política é o crescimento do gasto obrigatório superando o ritmo fixado pelo “novo arcabouço” para o gasto total, levando, portanto, à compressão do investimento federal a níveis politicamente insustentáveis.

Assim, cedo ou tarde, o arcabouço há de abrir o bico.

Sob ele já era virtualmente impossível impedir a escalada da dívida; com regras ainda mais frouxas, o governo se endividará cada vez mais.

Num mundo de juro baixo, ainda dava para fingir que o problema não existia. Quando, porém, se percebe que o juro mais alto veio para ficar, não dá para disfarçar o entulho debaixo do tapete.

Como também não se disfarça a falta de apetite para lidar com o problema. As medidas mencionadas pela equipe econômica a respeito são risíveis, exatamente porque não tratam dos desequilíbrios acima.

Já a pantomima do presidente em simular surpresa com o volume de renúncias fiscais poderia enganar quem não tenha notado que em 2023 seu governo criou 32 novos benefícios fiscais no valor de R$ 68 bilhões, afora o “Mover” para a indústria automobilística, recentemente aprovado.

As inconsistências da política econômica elevam tanto o dólar quanto as expectativas de inflação, além do estímulo ao consumo numa economia já próxima do pleno-emprego.

Foram elas que liquidaram com o espaço para redução de juros. Ao BC coube apenas a tarefa de dar a má notícia.

Obviamente, sempre é mais fácil atirar no mensageiro do que resolver os problemas, mas esta postura não fará com que desapareçam, apenas que se aprofundem, independentemente de quem estiver ao leme do BC.

*O autor é economista e consultor da AC Pastore (@alexschwartsman)

Categorias: OPINIÃO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *