Para surpresa de ninguém
A verdade é uma só: por esforçar-se em resistir às pressões do Palácio do Planalto para torrar o dinheiro da empresa em megaprojetos perdulários e temerários, que já produziram rombos e desvios enormes no passado, Jean Paul Prates foi defenestrado da presidência da Petrobras.
Inútil tapar o sol com a peneira: ele ganhou o cartão vermelho por estar atrapalhando os planos dos que pretendem colocar a companhia a serviço dos interesses de empreiteiros parasitas do estado que contam com amigos influentes na esplanada dos ministérios.
Com a sua saída, abre-se o caminho para que a Petrobras, por exemplo, banque a construção da rede de gasodutos sonhados pelo ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e financie a fábrica de fertilizantes da falida Unigel, de um amigo do ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Nada na vida acontece por acaso: os dois foram os principais algozes de Prates.
E não para por aí: dos cofres da petrolífera deverão jorrar também vultosos investimentos para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e para reerguer a indústria naval, que tem um longo histórico de fracassos, prejuízos e falcatruas, mas que Lula quer ressuscitar a qualquer preço.
Fica muito claro que o objetivo final dessa operação de recaptura da Petrobras é reeditar a estratégia dos governos petistas de usar os fartos recursos da empresa para movimentar a economia, capitalizando seus eventuais resultados positivos para aumentar as chances de reeleição de Lula em 2026 e, ao mesmo tempo, gerar promissoras oportunidades de “negócios” para enriquecer os cupinchas.
Une-se o útil ao agradável.
Obviamente, o presidente da República tem todo o direito de trocar a direção da Petrobras na hora que bem entender. Afinal, ele é o chefe do governo federal, acionista majoritário da companhia. O problema é a má intenção que está por trás da mudança.
Tanto é que, diante dos indícios de que haverá aumento da interferência política nos rumos da empresa, suas ações desabaram e ela perdeu quase 50 bilhões de reais em valor de mercado.
Em suma, o fato é que Prates caiu por estar tentando fazer o que é minimamente correto na condução da maior estatal brasileira.
Ocorre que para os atuais donos do poder isso é desvio de função. Onde já se viu logo um petista, um “companheiro”, querendo posar de sério no comando da Petrobras e evitar que ela venha a dar novas alegrias à tigrada?
Pode ser que Prates não figure entre os gestores mais brilhantes que passaram pela empresa, mas já temos, neste momento, ao menos um bom motivo para sentir saudades dele.
Para o seu lugar, Lula vai nomear Magda Chambriard, indicada por Dilma Rousseff e referendada por inúmeros figurões da velha guarda do PT, entre eles o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, ambos presos e condenados pela Operação Lava Jato por atuarem na linha de frente do gigantesco escândalo de corrupção que dilapidou a companhia.
É a turma toda voltando à cena do crime.
Se você fez o L sabendo que a história poderia se repetir, você é cúmplice.
Se você fez o L acreditando que as coisas seriam diferentes, me desculpe, mas você é um grande otário.
1 comentário
Nilso · 19/05/2024 às 13:58
Voltando a cena do crime