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Safra Brasileira Tem Novo Corte Mas Oferta Global Segue Firme

Publicado por Caio Gottlieb em

Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Vinicius Cambaúva

Beatriz Papa Casagrande

Reflexões dos fatos e números do agro em fevereiro/março e o que acompanhar em abril

Na economia mundial e brasileira, o Banco Central do Brasil divulgou no dia 26 de março, por meio do Boletim Focus, mais uma atualização dos indicadores da economia nacional. De acordo com o relatório, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é projetado em 3,75% ao término deste ano (ligeira queda mensal) e 3,51% no ano subsequente (manutenção). Já o PIB (Produto Interno Bruto), deve encerrar 2024 com alta de 1,85% (alta) e de 2,0% em 2025 (manutenção). O câmbio deve ficar em R$ 4,95 ao final do ano corrente (leve alta mensal) e R$ 5,00 no próximo ano (manutenção). Para fechar, a taxa Selic foi estimada em 9,0% no fechamento de 2024 e 8,5% ao término de 2025 (ambos em manutenção de um mês a outro).

No agro mundial e brasileiro, o índice de preços dos alimentos calculado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) fechou fevereiro em 117,3 pontos, queda de 0,7% ou 0,9 pontos em relação ao mês anterior. Se comparado há um ano, o índice caiu 10,5% ou 13,8 pontos. A queda nos cereais e óleos vegetais mais do que compensou o aumento do açúcar, carne e laticínios. Os cereais (-5,0%) retraíram por conta das boas expectativas de colheita do milho argentino e brasileiro, somado ao bom funcionamento da rota comercial marítima utiliza pela Ucrânia. Além disso, a exportação de trigo pelo Rússia também foi acelerada. A queda dos óleos vegetais (-1,3%) foi reflexo dos menores preços dos óleos de soja (boas perspectivas de produção na América do Sul), girassol e colza (ampla oferta global). No açúcar (+3,2%), o aumento se deve às preocupações diante da menor moagem brasileira na próxima safra e prováveis retrações em outros grandes exportadores globais. As carnes (+1,8%) registraram aumento após 7 meses de quedas consecutivas. Nas aves, a valorização veio devido ao aumento nas importações. Na carne bovina, a menor oferta australiana (fortes chuvas afetando a logística) foi determinante. E na suína, houve ligeiro aumento de preços em vista da maior procura por parte da China e Europa Ocidental. Para fechar, o aumento dos lácteos (+1,1%) foi impulsionado pelos preços da manteiga, pela maior procura asiática e redução sazonal da produção de leite na Oceania.

No 6º levantamento para a temporada 2023/24, a expectativa de produção da safra brasileira de grãos foi reduzida, mais uma vez, pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). A projeção está agora em 295,6 mi de t, 3,8 milhões de t a menos do que o mês passado; e 7,6% menor ou 24,2 mi de t abaixo do registrado no ciclo passado (319,8 mi de t). A área plantada está estimada agora em 78,1 milhões de hectares, 200 mil ha a menos em um mês; ou 450 mil hectares a menos do que 2022/23 (- 0,5%).

No milho, o relatório de março/2024 do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu em 2,3 milhões de t a oferta do milho em 2023/24: está agora em 1,230 bi de t. Mesmo com o ajuste, o volume deve ser 6,2% (ou 72,7 milhões de t) superior ao do ciclo passado, o que justifica a manutenção nos preços do grão. Para as lavouras ainda em andamento, o USDA estima que o Brasil deve ofertar 124,0 mi de t, o mesmo valor do relatório passado (-9,5% ou -13,0 mi de t na comparação com 2022/23). Na Argentina, o órgão ampliou em 1 mi de t a oferta neste mês, passando para 56,0 mi de t (+55,5% ou + 20,0 mi de t). Com isso, os estoques devem fechar em 319,6 mi de t, 5,9% maiores do que a última temporada ou 18,0 mi de t adicionais.

Enquanto o USDA fala em 124,0 mi de t, a estimativa mais recente da Conab indica uma produção de 112,7 mi de t do grão, quase 1,0 mi de t a menos do que previa no último relatório (fevereiro). Se confirmada, essa produção será 14,5% inferior à do ciclo passado; ou 19,1 mi de t a menos. Do total produzido, 23,4 mi de t serão provenientes da 1ª safra (18,9%), 87,3 mi de t da 2ª safra (77,4%) e 2,0 mi de t da 3ª safra (3,0%). A área de milho deve cair 8,6% (ou -1,9 mi de ha), ficando em torno de 20,4 mi de ha.

No campo, a colheita do milho verão (1ª safra) alcançou 42,8% da área até 24/03, contra 41,9% no mesmo período do ano passado. Paraná desponta na frente com 87,0% já colhido (57,0% em 2023), seguido de Santa Catarina com 78,0% (70,0% em 2023) e do Rio Grande do Sul com 76,0% (71,0% em 2023). As lavouras ainda em campo, encontram-se 28,0% em maturação, 20,6% em enchimento de grãos, 5,8% em floração e apenas 2,8% em desenvolvimento vegetativo. Já para o milho safrinha (2ª safra), o plantio já está em fase final com 96,8% das lavouras semeadas (era 91,1% em 2023). Goiás, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins já concluíram as operações. 74,2% das áreas encontram-se em desenvolvimento vegetativo, 18,9% avançam para floração, 6,2% estão em fase de emergência e apenas 0,7% dos campos estão em emergência.

Em Chicago, o contrato de mai/2024 do milho estava em US$ 4,376/bushel em 25/03, 5,6% superior ao valor negociado no mesmo dia do mês passado (US$ 4,144/bushel).

Para a safra 2024/25, o Instituto Matogrossense de Economia Aplicada (Imea) divulgou estimativas relacionadas ao custo de produção do milho no Mato Grosso. O custeio deve ficar em R$ 3.437/ha, com a provável queda no custo de operações mecanizadas (-2,1%), nas sementes (-1,4%) e com defensivos (-1,1%). Já o Custo Operacional Efetivo (COE; todos os gastos da propriedade no ciclo) deve fechar em R$ 4.820/ha. Para alcançar o ponto de equilíbrio – e considerando uma colheita média de 103,9 scs/ha (estimativa para 2024/25 no estado), o produtor deve negociar o milho a R$ 33,10/sc (custeio) e R$ 46,41/sc (COE).

Na soja, o relatório global (março) do USDA estimou a produção global em 396,9 mi de t, 1,3 mi de t a menos do que no relatório passado. Ainda assim, a produção em 2023/24 deve ser 5,0% superior; ou 18,9 mi de t adicionais. No Brasil, o USDA reduziu em 1,0 mi de t a previsão de oferta, em vista dos impactos do clima na produtividade da cultura: a estimativa atual é de 155,0 mi de t, 4,3% a menos (ou -7,0 mi de t) do que em 2022/23. Na Argentina, o órgão manteve a estimativa em 50,0 mi de t, simplesmente o dobro do que o país produziu no ano passado (+100,0% ou +25,0 mi de t). Ao final de 2023/24, os estoques globais devem ficar em 114,3 mi de t, 11,9% superiores (+12,2 mi de t) que o último ciclo.

No Brasil, a Conab reduziu em 2,5 mi de t a estimativa de produção da oleaginosa neste mês, para 146,9 mi de t, 5,0% a menos (ou -7,7 mi de t) na comparação com 2022/23. Na contramão da oferta, a área plantada com a leguminosa foi elevada em 120 mil ha e está agora estimada em 45,1 mi de ha, simplesmente 1,1 mi de ha a mais em um ano (+ 2,5%). Aí está o motivo da grande produção.

Em 24/03, a colheita da soja havia alcançado 66,3% do total (em 2023 era de 69,1%), de acordo também com a Conab. Os estados que mais avançaram foram, em ordem: Mato Grosso com 95,5% (99,2% em 2023); Mato Grosso do Sul com 90,0% (90,0% em 2023); São Paulo com 88,0% (85,0% em 2023); e Paraná com 80,0% (65% em 2023). Na mesma data, a fenologia das lavouras ainda não colhidas estavam 18,1% em maturação, 13,4% em enchimento de grãos, 1,7% em floração e 0,5% em desenvolvimento vegetativo.

O contrato de mai/2024 em Chicago estava em US$ 12,068/bushel em 25/03, 5,4% maior do que as negociações há 30 dias; era de US$ 11,445/bushel.

Para a safra 2024/25, o Instituto Matogrossense de Economia Aplicada (Imea) estima que o custeio da soja no estado deve ficar em R$ 4.145,75/ha, considerando o recuo dos preços dos fertilizantes, corretivos e defensivos. Embora o valor esteja em queda, a relação de troca de soja com os principais fertilizantes, corretivos e defensivos demonstra que (neste momento) o cenário não é favorável para o sojicultor no estado. Alguns exemplos: para adquirir 1 t de Super Simples (SSP), o produtor precisa entregar 21,93 scs de soja; e para comprar 1 t de Map, a estimativa é de 40,45 scs entregues. Segundo o Imea, este cenário tem relação com a perspectiva de recuo expressivo nos preços no médio prazo, o que torna essencial a gestão minuciosa com controle de gastos e uso de ferramentas para redução de riscos.

No algodão, a estimativa de produção global da pluma foi levemente reajustada para cima em março, com a perspectiva de melhora do clima na Índia: de 24,56 (fevereiro) para 24,59 mi de t (março). Se confirmada, esta oferta será 2,8% inferior à de 2022/23, fator que tem mantido os preços da pluma em nível interessante para o agricultor brasileiro. A melhoria climática na Índia fez o USDA elevar a estimativa de produção no país em 100 mil t, agora estimada em 5,55 mi de t (ainda 2,9% menor do que a do ciclo passado). As produções da China e do Brasil foram mantidas em 5,98 e 3,17 mi de t, respectivamente. Nos Estados Unidos, 4º maior produtor global, o USDA reduziu a produção de 2,70 para 2,63 mi de t no relatório deste mês, uma queda de 15,5% em comparação com o que fora produzido em 2022/23. Nos estoques, a perspectiva é de 18,14 mi de t da pluma, 0,4% maior do que a última temporada; ou 82 mil t adicionais.

No Brasil, o clima favorável fez com que a Conab ampliasse a projeção em 260 mil t de pluma no relatório de março: estamos agora com 3,56 mi de t previstas para 2023/24, 12,2% superior (+390 mil t) que 2022/23. A área de algodão também cresceu e está estimada em 1,94 milhão de há, 16,3% a mais ou 280 mil ha adicionais, indicador que não deve sofrer grandes alterações, considerando que o plantio foi concluído no país (100,0%).

Até 24/03, as lavouras de algodão encontravam-se 47,7% em formação de maçãs, 42,7% em floração e apenas 9,7% ainda em desenvolvimento vegetativo. A Conab indica um ótimo desenvolvimento da pluma até o momento, o que reforça a perspectiva de produtividade e segurança na oferta.

O contrato de mai/2024 do algodão em Chicago estava em 92,07 centavos de dólar por libra-peso, apenas 0,6% inferior. Há um mês, as negociações giravam em torno de 92,66 cts/lp.

Nos demais setores, o relatório da Conab estimou, ainda, que culturas como canola (-8,0%), amendoim (-5,7%) e sorgo (-2,7%) também devem diminuir a produção nesta temporada. Em contrapartida, o arroz (5,2%), trigo (18,4%), aveia (17,3%) e outras culturas de inverno devem ampliar o volume produzido.

As perspectivas climáticas para 2024 ainda são incertas. O fenômeno El Niño segue ativo, trazendo chuvas mais cedo para a faixa central e norte do Brasil, com previsão de migração das precipitações para o sul, em abril. Além disso, o inverno deve marcar uma transição do El Niño para o La Niña, com a possibilidade de entradas mais frequentes de massas de ar polar, embora ainda seja prematuro prever a incidência de geadas.

Na balança comercial, as exportações do agro alcançaram mais um recorde em fevereiro de 2024, atingindo a cifra de US$ 11,63 bi, de acordo com dados da secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (SCRI/Mapa). O valor representa um crescimento de 19,7% em comparação com os US$ 9,71 bi exportados no mesmo mês de 2023. Foram 4 os produtos que se destacaram no alcance desse resultado: o açúcar (+US$ 1,1 bi); o algodão (+US$ 406,5 mi); o café verde (+US$ 313,1 mi) e a carne bovina (+US$ 211,6 mi).

Os 5 setores que mais contribuíram para o valor histórico foram: “Complexo Soja” com US$ 3,7 bi exportados (-1,1% na variação anual), porque embora a soja em grãos tenha aumentado (+4,5%), as vendas externas do óleo de soja caíram significativamente (-87,3%) devido ao aumento da mistura de biodiesel que elevou a demanda doméstica pelo produto.

Em seguida, as “Carnes” faturaram US$ 1,8 bi (+13,0%), sendo que os volumes exportados atingiram quantidades recordes para os 3 tipos de carne e, em contrapartida, os preços médios de exportação tiveram retração: bovinos (203,9 mil t ou +40,7% | -6,9% preço médio); frango (388,3 mil t ou +4,5% | -8,2% preço médio); suíno (93,5 mil t ou +20,5% | -8,6% preço médio). Na terceira posição, vem o “Complexo Sucroalcooleiro” com exportação de US$ 1,7 bi (+171,1%), puxado pelo açúcar, que vendeu 3,1 mi de t. Os “Produtos Florestais” ocupam a 4ª posição com US$ 1,3 bi (+10,2%), sendo a celulose o principal produto do setor atingindo a cifra recorde de US$ 734,9 mil em exportações (+5,5%). Por último, o “Café” ficou com o 5º lugar alcançando US$ 812,3 mi (+65,9%). A safra 2023/24 se recuperou da quebra de produção da última temporada com uma boa colheita e o volume negociado de café verde também foi recorde para o mês (216 mil t | +77,1%).

Do lado das importações, foram de US$ 1,44 bi no último mês (+7,5%), o que possibilitou um saldo de US$ 10,17 bi no mês (+ 21,4%). No acumulado de janeiro e fevereiro de 2024, as exportações do agro somam US$ 23,26 bi, alta de quase 17% em relação ao mesmo período do ano passado.

No café, as exportações brasileiras totalizaram 3,6 mi de sacas em fevereiro, um aumento de 48,9% em comparação com o mesmo período de 2023, resultando em um aumento na receita de 47,2%. No acumulado dos primeiros oito meses da safra 2023/24, as exportações atingiram 30,7 mi de sacas (+24,3%), gerando US$ 6,1 bi em receita (+6,1%). Esse cenário pode ser atribuído às dificuldades enfrentadas por dois importantes exportadores globais, Vietnã e Indonésia, cujas plantações foram afetadas por condições climáticas adversas no último ano, bem como os preços dos cafés brasileiros mais atrativos no mercado global. Os dados são do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

Já no setor de carnes, os embarques devem contribuir com um acréscimo de R$ 10,0 bi na balança comercial. A China, um importante mercado, autorizou a operação de 38 frigoríficos somente em março, e há previsão de mais liberações durante o segundo semestre deste ano.

A terceira estimativa da safra 2023/24 do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, realizada pelo Fundecitrus, manteve a projeção em 307,2 mi de caixas (-0,7% em relação à estimativa inicial de maio de 2023). Em fevereiro, o preço da laranja atingiu o maior nível dos últimos 30 anos, alcançando R$ 90,0 a caixa ao produtor, conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Essa valorização pode ser atribuída em grande parte à escassez de oferta durante a entressafra e à alta demanda industrial, contribuindo ainda mais para a restrição das frutas no mercado doméstico. Como resultado, os estoques brasileiros de suco de laranja encerraram 2023 com 463,9 mil t, o segundo menor volume da série histórica, ficando atrás apenas de 2022 (434,9 mil t), de acordo com a CitrusBR.

Os preços do cacau atingiram recorde histórico de mais de meio século, ficando 42% acima do maior valor já estabelecido em julho de 1977, impactando fabricantes de chocolate e indústrias de alimentos. As condições adversas na produção, especulações e temores relacionados ao clima na África Ocidental, principal região produtora, foram os principais motivos.

O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) em fevereiro de 2024 foi estimado em R$ 1,155 tri, uma queda de 1,0% frente ao último ano (R$ 1,167 bi), segundo o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária). Do total, a agricultura deve representar R$ 781,4 bi, retração de 4,4%, enquanto a pecuária deverá participar com R$ 373,6 bi, crescimento de 5,8%. Para contribuir com esse resultado, as principais culturas devem ser: soja (23,7%), milho (11,1%), cana-de-açúcar (9,8%), café (4,8%) e algodão (2,7%). Já para a pecuária, os principais produtos serão: bovinos (11,6%), frango (8,5%), leite (5,2%), suínos (4,9%) e ovos (2,0%).

A agropecuária desempenhou um papel significativo no crescimento do PIB brasileiro em 2023, contribuindo com cerca de 1/3 do aumento de 2,9% registrado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse setor registrou uma expansão de 15,1%, a maior variação já observada para o segmento, impulsionada principalmente pelo aumento da produção e ganhos de produtividade das commodities agrícolas. O destaque foi a safra de grãos, com ênfase nas produções recordes de soja e milho da temporada 2022/23. As condições climáticas favoráveis durante grande parte do ano, aliadas aos preços favoráveis dos produtos agrícolas, estimularam os investimentos nas lavouras em todo o Brasil.

A população ocupada no agro alcançou um recorde em 2023, atingindo 28,3 mi de pessoas, representando 26,8% do total de empregos no país. O crescimento de 1,2% em relação a 2022 foi impulsionado pelo desempenho dos agrosserviços, que registrou aumento de 8,4%, enquanto o segmento de insumos também se destacou, com um crescimento de 5,1%. No entanto, a população ocupada na agropecuária diminuiu 5%, atribuída às retrações em várias áreas, como horticultura, cafeicultura e produção florestal. O aumento da população ocupada foi principalmente entre empregados formais e com maior nível de instrução, enquanto os rendimentos mensais dos empregados assalariados no agronegócio superaram a média nacional, registrando um aumento de 4,3% em 2023.

As vendas de máquinas agrícolas no Brasil enfrentaram um declínio de 13,2% em 2023, após atingirem picos históricos no ano anterior, impactadas por uma série de fatores: redução dos preços das commodities, adversidades climáticas e desafios relacionados ao crédito e às taxas de juros. Grandes empresas do setor, como a John Deere, suspenderam temporariamente a produção devido ao excesso de estoque nas revendas e estagnação nos negócios. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) prevê uma nova contração em 2024, porém menor, cerca de 11%, totalizando 54,3 mil máquinas.

E fechando a nossa análise do agronegócio, apresentamos os preços dos principais produtos do setor na data de fechamento da coluna. Na soja, o contrato de mai/2024 (entrega em cooperativa do estado de São Paulo) estava em R$ 119,80/sc (60 kg); já o contrato de mar/25 estava em R$ 113,80/sc. No milho, o preço físico era de R$ 59,00/sc e o contrato de jul/24 (B3) estava em R$ 60,10/sc. No algodão, R$ 137,39/@, considerando a Base Esalq. Outros produtos do setor, de acordo com o Cepea, apresentavam as seguintes cotações: café arábica em R$ 1.020,95/sc (60kg); o Trigo Paraná em R$ 1.236,03/t; a laranja para indústria (a prazo) em R$ 59,33/cx (40,8 kg); e o boi gordo em R$ 232,20/@.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em abril são:

1 – Resultados e produtividade da colheita de soja no Brasil (safra verão). No próximo mês, as operações devem ser concluídas e darão uma noção mais precisa em relação ao volume final produzido no soja em 2023/24. A Conab fala em 147 milhões de t e o USDA mantém em torno de 155 milhões de t.

2 – Desenvolvimento e condições das lavouras de 2ª safra no Brasil (especialmente milho e algodão). A antecipação da colheita da soja possibilitou uma janela mais favorável para a safrinha e, até o momento, o clima tem favorecido as culturas. Ainda assim, já observamos uma redução de quase 2,0 mi de ha no cultivo do cereal, por conta dos preços. Neste momento, é bom garantir uma boa oferta do grão, mesmo com preços mais baixos, para compensar o investimento feito e contribuir com as demandas das carnes e do etanol.

3 – Acompanhar (diariamente) o início e os avanços no plantio da safra 2024/25 nos Estados Unidos. O andamento da safra brasileira e argentina (milho e soja) podem alterar a dinâmica de relacionada a opção de plantio dos produtores americanos. Até o momento, a área de soja deve crescer (em comparação com o ciclo passado; o que é negativo para os preços). Entretanto, caso haja algum evento sobre a safrinha de milho no Brasil (reduzindo a oferta do grão), pode haver alguma mudança na opção de plantio no país norte-americano.

4 – Planejamento e gestão da safra verão (2024/25). Algumas organizações têm divulgado dados com estimativas dos custos de produção, e deixando orientações aos produtores. Considerando que é difícil com os fatos colocados (a menos que tenhamos alguma surpresa) ver uma alta nos preços dos grãos no médio prazo, ter as contas na “ponta do lápis” e acompanhar as oscilações do mercado para aproveitar o melhor momento de compra de insumos ou um possível travamento (olhando, principalmente, para o câmbio), será determinante para as margens do próximo ciclo. Mais do que nunca, é gestão na risca!

5 – Por fim, seguir acompanhando o combo de eventos e fatos relevantes na esfera internacional: andamento e progresso da safra na Argentina (ainda em andamento); a continuidade e novos capítulos dos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia; as notícias envolvendo as eleições presidenciais nos EUA; e as medidas internas que afetam o setor, tais como a discussão acerca da Ferrogrão.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP e mestre em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

Categorias: OPINIÃO

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