Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o nosso site e as páginas que visita. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com o monitoramento descrito em nossa Política de Privacidade.

Até onde isso vai?

Publicado por Caio Gottlieb em

Um antigo provérbio latino ensina que não se deve matar o mensageiro. O aforismo teria surgido, relata a história, quando Dario III, rei da Pérsia, derrotado na guerra, determinou a execução do súdito que lhe trouxera a informação de que suas tropas haviam sucumbido ao exército de Alexandre, o Grande.

Trata-se de uma recomendação óbvia: matar o portador da mensagem indesejável não apaga a má notícia. Pelo contrário, muitas vezes até aumenta ainda mais o prejuízo que ela por si só já causou.

Foi o que aconteceu com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, ao mandar a Polícia Federal investigar as contas da Transparência Internacional, que alguns dias antes havia apontado em seu relatório anual que o Brasil, em 2023, despencou dez posições no Índice de Percepção da Corrupção, atribuindo boa parte da culpa por esse retrocesso justamente às decisões do magistrado de suspender multas bilionárias contra a J&F e a Odebrecht, ambas rés confessas em acordos de leniência por prática de suborno de agentes públicos.

Pouco preocupado com a forte repercussão negativa de seus atos suspeitos em favor das duas companhias, pois sabe que a toga o protege de qualquer deslize ético que venha a cometer, o ex-advogado do PT ampliou ainda mais o escândalo, que agora ganhou destaque também na mídia internacional, ao valer-se de uma falsa acusação para investir furiosamente, em flagrante e abjeto ato de represália, contra uma instituição mundialmente respeitada pelo combate a atividades ilícitas envolvendo autoridades.

Para deixar ainda mais exposta a conduta altamente questionável de Toffoli, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, compelido por dever de ofício, entrou com recurso junto ao próprio ministro apresentando-lhe três propostas para tentar reverter a sustação do pagamento da multa de 10,3 bilhões de reais devida aos cofres públicos pelo grupo empresarial dos irmãos Wesley e Joesley Batista, por ele classificada como um “benefício incomum”, que até agora não mereceu, aliás, nenhuma crítica do governo Lula, apesar das muitas obras que esse dinheiro poderia custear em todo o país.

Argumentando, inicialmente, que o acordo de leniência da J&F, ao contrário do que escreveu o ministro em seu despacho, não foi firmado na Lava Jato e não está diretamente relacionado à força-tarefa de Curitiba, Gonet sugere que o caso seja redistribuído para outro integrante do STF.

Entretanto, caso Toffoli decida manter o caso sob sua relatoria, o PGR solicita que ele reveja sua decisão liminar. Por último, se a medida for mantida, Gonet reivindica que ela seja levada para discussão no plenário da Corte.

Mas são escassas, para não dizer inexistentes, as esperanças de que os pedidos do PGR sejam ouvidos por Toffoli, incentivado em seu arroubo autoritário pelo silêncio cúmplice dos demais ministros, ciente de que nenhum deles irá admoestá-lo pelo episódio, até porque também não querem ser confrontados pelos colegas quando tomam decisões monocráticas na defesa de seus interesses.

É a ditadura do judiciário, comprometida em assegurar a impunidade de corruptos ricos e poderosos, firmemente implantada no país.

Além de tudo, é a pior de todas as tiranias, pois contra ela, como já preconizava Ruy Barbosa, não há a quem recorrer.

Que vergonha para o Brasil.

Categorias: OPINIÃO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *