“Não sei que erva estão fumando”
Pouca gente deve lembrar da malfadada Operação Carne Fraca deflagrada em 2017 pela Polícia Federal no Paraná contra diversos frigoríficos que supostamente estariam cometendo as mais repugnantes adulterações em seus produtos.
E é bom mesmo que o lamentável ocorrido, um clamoroso e vergonhoso erro investigatório sem precedentes, caia no esquecimento.
Mas o ministro Gilmar Mendes ainda não apagou o evento da memória e tratou de relembrá-lo nesta semana durante sessão plenária do Supremo Tribunal Federal que julgava a constitucionalidade de uma norma relacionada a processos de improbidade administrativa.
Em sua fala, ele teceu severas reprimendas à justiça paranaense, bem como aos procuradores da República que conduziram aquela desastrosa ação: “Esse pessoal fez um estrago danado. Anunciaram que havia papelão na carne do Brasil e provocaram um dos maiores prejuízos que se tem notícia”.
Sem perder a oportunidade de brandir sua peculiar e afiada língua ferina, Gilmar, em tom de brincadeira, mas com humor ácido, sapecou: “Não sei que água ou erva esse pessoal lá no Paraná de vez em quando anda bebendo e fumando”.
Ressaltando que o episódio, recheado de equívocos inaceitáveis, mobilizou mais de mil agentes da PF, o magistrado indagou: “o que fazer em um caso como esse? Treinamento de que ordem? Para policiais, procuradores e juízes?”
Crítico feroz da operação desde o início pela fragilidade das evidências e pelos fantasiosos indícios que a fundamentaram, o magistrado, à época, reprovou fortemente a atuação irresponsável da autoridade policial que a comandava ao assinalar que “um delegado decide fazer operação com mil e tantos agentes para investigar. Anuncia que todos nós estamos comendo carne podre e o Brasil exportando para o mundo carne viciada. No quadro de debilidade da política, perderam os freios. Não há mais freios e contrapesos. Quem há de investigá-lo?”
Resta, por fim, dizer que, da calamitosa história, uma trapalhada épica, o que sobrou de verdade foi o saldo final da conta: mais de 30 bilhões de reais de perdas para as empresas e para o país.
Isso não dá pra esquecer.
1 comentário
Fabiola · 05/09/2022 às 11:43
Absurdo essa operação! Essa operação deveria ser cancelada. Foi um absurdo o que fizeram com os prestadores de serviços, trabalhadores do Map que dedicaram uma vida trabalhando e em função dessa desastrosa operação muitos perderam suas aposentadorias, homem trabalhadores e julgados por uma operação horrorosa.