Já passou dos limites
Bem que o ministro Celso de Mello poderia ter rechaçado logo de cara o insolente requerimento de partidos de oposição solicitando a apreensão do telefone celular do presidente Jair Bolsonaro para ser vasculhado em busca de provas da suposta interferência dele na Polícia Federal.
Mas o ilustre decano do Supremo Tribunal Federal optou por jogar um pouco mais de gasolina na fogueira ao submeter o assunto à apreciação do Procurador Geral da República, Augusto Aras, que, ao que tudo indica, deverá negar o pedido.
De qualquer modo, o episódio é mais uma evidência de que alguns membros do STF andam testando perigosamente a solidez dos nossos pilares democráticos ao desautorizar de maneira persistente e afrontosa prerrogativas que são exclusivas do presidente da República.
Por esse aspecto, ainda que possa ter exagerado no tom, foi oportuna a nota do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, repudiando de maneira veemente a provocadora sobrevida que Mello deu à descabida petição.
Afinal, era necessário marcar uma posição mais firme até porque, olhando o caso com uma visão mais ampliada, é notório que a Corte tornou-se nos últimos anos um poder muito acima dos demais.
Em entrevista concedida há alguns meses, o jurista Evandro Pontes definiu com precisão o impasse institucional que o país atravessa por causa do ativismo político do judiciário: “Na medida em que age de forma a violar a Constituição, o próprio STF já consolidou um verdadeiro golpe de estado em que todos os poderes foram por ele criminosamente usurpados: ele julga, ele investiga, ele legisla e ainda exerce as funções do executivo”.
O pior, ressalta Pontes, é que “quando uma ordem do STF é emanada por um ministro usando papel timbrado da Corte e todos os demais se calam, não há dúvida que esse silêncio integra a decisão ilegal dada pelo colega. O silêncio da Corte quando um sistema paraestatal é montado e levado a plena operação, significa exatamente que a ilegalidade contaminou irremediavelmente a atuação dos demais ministros.”
Também é fato, acrescento eu, que o problema não é novo, mas os eventos mais recentes mostram que ele está se agravando.
Existem várias formas de ditadura.
No Brasil destes tempos, vigora a dos homens e mulheres que vestem toga com a missão e o dever de moderar e pacificar as disputas, mas usam a espada da Justiça como arma para deturpar e inventar leis e desfazer decisões do governo que, na prática, os colocam no comando do país.
Estão cutucando onça com vara curta.
Não vai terminar bem.
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1 comentário
Marcos Villanova de Castro · 26/05/2020 às 20:14
Concordo plenamente com sua opinião, Caio.
E cito um exemplo que escancara o tal “ativismo político” dos ministros do STF: quando os encarregados das investigações da tentativa de assassinato do presidente solicitaram acesso ao celular do Adélio, o STF negou.
Ou seja, um criminoso preso em flagrante tem seus “direitos” (sic) protegidos pelo STF que, ao assim agir, bloqueia a sequência da investigação de um crime e, depois, este mesmo STF não nega, de imediato, um pedido da oposição para ter acesso ao celular do presidente.
Como justificar decisões tão diferentes?