Voepass fora do ar: decisão tardia para um desastre anunciado
Sete meses após a queda, em Vinhedos (SP), do ATR da Voepass em que pereceram todos os seus 62 ocupantes, dos quais mais de duas dezenas eram moradores de Cascavel, de onde o voo havia partido rumo a Guarulhos, a Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC) finalmente decidiu suspender as operações da companhia.
A questão é: por que só agora? Tudo o que veio à tona depois do fatídico evento, causado por falhas nos instrumentos do avião, já era amplamente conhecido. Passageiros relatavam aeronaves em condições precárias, cabines com danos diversos, equipamentos avariados, assentos quebrados e inúmeros outros problemas.
Pilotos e comissários denunciavam o estado crítico da frota, a falta de manutenção e a gestão caótica. Mas, para o órgão governamental que deveria fiscalizar o setor, nada disso parecia motivo suficiente para agir antes que o pior acontecesse.
Agora, tardiamente, a ANAC constata o óbvio: a Voepass não cumpria e não cumpre requisitos mínimos de segurança.
Mas a suspensão ainda é temporária, válida apenas até que a empresa corrija suas “não conformidades”. Ou seja, após protagonizar um dos mais terríveis acidentes da aviação brasileira, a Voepass ainda pode voltar a voar. Ou cair. Um escárnio.
Fica a pergunta inevitável: se as fiscalizações tivessem sido feitas com o rigor exigido, 62 vidas poderiam ter sido salvas? É vergonhoso que no Brasil medidas preventivas só sejam tomadas depois que as tragédias se tornam manchetes.