Maktub

Nada e nem ninguém, ao menos por ora, vai mudar o curso dos acontecimentos. O dano está feito e é irreversível.

Depois de desvendar o maior esquema de roubalheira de dinheiro público da história mundial, recuperando bilhões de reais com a ajuda de delações premiadas e confissões espontâneas, além de botar na cadeia dezenas de criminosos de colarinho branco, a Operação Lava Jato foi desmantelada, morta e sepultada.

Para esse objetivo, uniram-se políticos, empresários e magistrados de alto coturno. Um grande consórcio mafioso formado por figurões de direita, de esquerda, de centro e até por gente sem nenhuma ideologia, mas com os mesmos interesses escusos.

Todo esse pessoal nunca quis que houvesse um esforço sério, consistente e permanente de enfrentamento à corrupção no Brasil. Combater a ladroagem atrapalha os negócios.

Fruto de um acaso, a operação acabou indo longe porque seus principais alvos não imaginavam que seriam alcançados. Se desconfiassem disso logo no início, ela teria sido aniquilada no nascedouro. Mas agora está tudo resolvido.

Aliás, convenhamos, a Lava Jato não poderia mesmo dar certo em um país onde a cultura da proteção e da impunidade dos bandidos ricos e poderosos está fortemente institucionalizada.

Em suma, a Lava Jato foi destruída mais por suas virtudes, que eram muitas, do que por seus defeitos, que eram poucos.

Ainda assim, nem tudo está perdido. O que nos dá alguma esperança de que essa realidade possa ser mudada no futuro é ver que 65% dos brasileiros que acompanhavam a operação de perto acreditam, passados já dez anos, que ela fez mais bem do que mal ao país, como mostrou uma recente pesquisa da Quaest.

Em outra reveladora sondagem do mesmo instituto, tivemos mais uma reconfortante prova de que a maioria da população brasileira não é alienada e sabe o que está acontecendo: nada menos do que 74% dos consultados afirmam que o Supremo Tribunal Federal “incentiva a corrupção” ao anular punições aplicadas a empresas nos processos da Operação Lava Jato, como fez o ministro Dias Toffoli ao perdoar as multas impostas à J&F e à Odebrecht.

Por fim, juntando-se ao coro da opinião pública, o ministro aposentado da suprema Corte, Marco Aurélio Mello, em entrevista concedida dias atrás ao Estadão, foi taxativo ao afirmar que, sim, “o STF ajudou a enterrar a Lava Jato quando decidiu que a 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná não seria o foro adequado para aqueles casos, o que esmoreceu o combate à corrupção”.

Aliás, o complô para desmontar a operação já vinha sendo urdido há muito tempo, como Mello fez questão de ressaltar ao trazer à lembrança aquela famosa e emblemática declaração do ex-senador Romero Jucá proferida no auge da Lava Jato: “Precisamos estancar essa sangria!”

Pois conseguiram. Parabéns aos envolvidos.