Não é excesso de requinte: a taça importa, sim
Apreciador de um bom vinho, confesso que nunca dei muita atenção para o recipiente em que despejo um tinto ou branco para degustar.
Para mim, e também para os amigos com os quais costumo compartilhar o prazer de desfrutar o chamado néctar dos deuses, seja qual for o tipo da taça, desde que tenha o formato adequado, o que vale é gostar ou não do seu conteúdo.
Mas comecei a mudar de opinião depois de ler um artigo assinado por Julia Frischtak, sócia-diretora da Cellar Vinhos, em recente edição da revista Exame.
No texto, intitulado “A taça importa”, com a autoridade de quem conhece o assunto e goza de grande prestígio nos meios enófilos, ela afirma que a qualidade e o desenho do cálice fazem uma enorme diferença na hora de saborear a bebida.
Pincei e reproduzo a seguir alguns trechos da enfática e convincente defesa que Julia faz do seu ponto de vista:
“Pode parecer preciosismo ou mania de enochato. Mas um dos melhores e mais sensatos investimentos que um bebedor de vinho pode fazer é em uma bela taça.
Não estou escrevendo aqui para convencê-lo de que é necessário ter 15 modelos de taça em casa, e que beber no modelo errado seria sacrilégio ou mesmo um desperdício.
Estou apenas questionando se faz sentido investir em ótimas garrafas e não extrair delas o máximo de seu potencial.
Beber vinho é, acima de tudo, uma experiência sensorial. E a qualidade da taça — idealmente feita de cristal soprado, com um design inteligente que valorize os atributos do vinho — faz, sim, muita diferença na nossa percepção do líquido dentro dela e no prazer que podemos ter ao bebê-lo.
Existem vários outros rituais que atrelamos ao ato de beber — decantar o vinho, aerá-lo, servir na temperatura certa —, que buscam justamente valorizar essa experiência sensorial e extrair do vinho tudo o que ele pode nos oferecer.
O design da taça é importante — afeta como o líquido se mexe e interage com o oxigênio, influencia em quanto da temperatura é preservada e dita a nossa proximidade física com o vinho (pense em como é difícil e estranho aproximar seu nariz de uma flûte, ou taça de espumante, por exemplo).
Mas o grande prazer de uma bela taça começa na experiência tátil.
Levantá-la e sentir sua leveza entre os dedos, notar o peso do vinho quando o mexemos de um lado para o outro e a forma contínua como o vinho parece fluir da taça à boca, sem que ela se faça muito presente. A diferença é palpável.
Nos últimos anos, o culto às taças superpremium cresceu consideravelmente entre os bebedores de vinho, com muitos levando-as em viagens e até a restaurantes.
Entre outros motivos, a resistência a investir em uma taça excepcional vem da ideia de que seria necessário comprar jogos inteiros.
A verdade é que uma ou duas bastam — são instrumentos para curtir com vinhos especiais, em casa, a sós ou em casal. Para receber grupos maiores, use outras.”
Para completar as dicas da Julia, finalizo a postagem trazendo uma inspirada citação de Oscar de Jesus Klemz: “Toda taça de vinho tem um segredo que eu nunca consegui decifrar. Continuo tentando…”
Santé!