Uma verdade incômoda

Podem dizer o que quiserem sobre o ex-juiz Sergio Moro e o também agora ex-procurador Deltan Dallagnol, mas os brasileiros que valorizam a decência lhes serão eternamente gratos por terem oferecido, ao menos por um breve momento, a esperança de que o país poderia deixar de ser um dos paraísos terrenos da impunidade dos ricos e poderosos.

Como coordenador da força-tarefa do Ministério Público Federal que levou à frente a Operação Lava Jato, Deltan comandou a histórica investigação que identificou e denunciou a quadrilha de ladrões que saquearam a Petrobras, depois processados, sentenciados e mandados à prisão por Moro.

Se, de lá para cá, valendo-se providencialmente de casuísmos e artifícios jurídicos para salvar a bandidagem amiga, o Supremo Tribunal Federal vem suspendendo inquéritos, anulando ações, libertando condenados e extinguindo as penas aplicadas aos principais envolvidos na roubalheira, só nos resta lamentar.

O fato é que a dupla, ao lado de outros magistrados e procuradores, fez a sua parte.

Ambos agora entram na política para tentar manter vivo o legado da Lava Jato, desmontada pelas sabotagens do STF e pelas iniciativas de enfraquecimento das punições aos crimes de improbidade orquestradas pelo poder legislativo.

Moro filia-se no próximo dia 10 ao Podemos para disputar a presidência da República. Deltan deve ingressar na mesma sigla para concorrer a deputado federal pelo Paraná.

Independentemente do que virá, eles prestarão um grande serviço para o debate político ao ressuscitar e trazer para a campanha eleitoral um tema que boa parte dos candidatos tem enorme dificuldade em abordar e pretende evitar a qualquer custo: o combate à corrupção.

É como falar em corda em casa de enforcado.