Como saber se um vinho é bom? Sommelière dá dicas de como degustar
Por Caroline Olinda
Sabe aquele momento em que o garçom te serve o primeiro gole do vinho e fica aguardando a sua avaliação para dizer se a bebida está aprovada e pode seguir para o resto da mesa? Diga, você não se sente uma fraude quando isso acontece? Afinal, se você não é um especialista, como atestar que sim: o vinho está ótimo? Como saber se o vinho é bom sem ser um especialista na área?
Foi pensando nesse momento que o Bom Gourmet convidou a sommelière Patrícia Ecave para responder algumas questões. Ela passou dicas de como saber se um vinho é bom. Adiantamos: vinho tem de ser apreciado. Isso inclui perceber e avaliar a cor, os aromas e só então partir para o sabor.
E mais, saiba o que esperar da sua bebida. Vale consultar o garçom ou sommelier da casa no momento de fazer o pedido ou buscar mais informações sobre o vinho antes de comprar. A internet está aí para isso.
Vamos, pois, às respostas da Patrícia para as perguntas mais comuns sobre o assunto:
Tem uma forma certa de beber vinho para degustá-lo? Como seria?
Sim, tem uma forma correta. Aos apreciadores que querem fazer corretamente uma degustação temos uma técnica que consiste em três passos básicos.
O primeiro é a análise visual: avalia-se a cor, a limpidez do vinho, se está cristalino, turvo, com ou sem resíduos.
O segundo passo é a análise olfativa: é nesse momento que giramos a taça para volatilizar os aromas e sentir suas características olfativas como frutas, madeira, couro, tabaco, entre outros aromas; ou até se o vinho tem defeitos.
Por último, fazemos a análise gustativa. Nessa fase, são avaliadas as características do vinho na boca, também vai identificar frutas, especiarias e características como baunilha, chocolate, madeiras, especiarias, é no paladar que também avaliamos a acidez e os taninos do vinho.
Quando degusto o vinho, o que devo observar? Quais sabores devo procurar?
Tudo depende do estilo de vinho escolhido, do tipo de uva, do local onde foi produzido, porque isso vai envolver o terroir da região produtora. Basicamente devem ser avaliados a coloração, aromas, acidez, teor alcoólico e taninos.
Cada casta tem suas características conforme o terroir. Por exemplo: num vinho italiano produzido com a casta Sangiovese, você deve observar/procurar uma boa expressão de fruta, pode encontrar cereja, ameixa, morango, toques de ervas, corpo médio, acidez presente (uma de suas características mais evidentes), boa estrutura e um final com boa persistência. Isso tudo é no caso da Sangiovese, se for outra uva, outras características devem ser observadas.
Existe uma diferença na degustação do vinho dependendo da uva a partir da qual ele é feito?
Sim, existem muitas diferenças. Cada uva tem suas características, uma chardonnay é completamente diferente de uma Sauvignon Blanc e ainda temos a questão do terroir, conforme o local onde são produzidas as uvas, elas são diferentes.
Um exemplo básico: a uva Pinot Noir nasceu na Borgonha e seus exemplares clássicos são elegantes; quando ainda são vinhos jovens têm sabores de frutas vermelhas como cerejas, framboesas e morangos. Nos quesitos acidez e taninos, variam de acordo com o vinhedo, possuem bom corpo e raramente são muito adstringentes.
Nos Estados Unidos, a uva Pinot Noir produzida na Califórnia, região onde apresenta clima quente, traz em suas características notas de frutas negras maduras, são mais concentradas e possuem maiores níveis de álcool.
Quando escolhemos um vinho no restaurante, o garçom serve um tanto na taça e depois quem escolheu o vinho faz a prova. Como eu sei que o vinho está bom? Tem um tempo correto para fazer essa avaliação?
Avalie visualmente a coloração, a limpidez. Um vinho excessivamente opaco não é bom sinal. Na sequência, a análise dos aromas é fundamental, pois um defeito no vinho já pode ser detectado no aroma. Se sentir cheiro de papelão molhado ou avinagrado, o vinho está estragado e deve ser feita a troca.
Por isso, essa prova inicial é oferecida pelo garçom. Em alguns locais no mundo, quem faz a prova é o próprio sommelier da casa. Ele faz isso na frente dos clientes e avalia se o vinho tem defeitos para só então servir. No Brasil quase não é usada essa forma de atendimento. Nem sempre há um sommelier no restaurante.
Sobre um tempo correto para degustar o vinho, isso existe. Mas para vinhos de guarda, que são vinhos de maior complexidade e mais caros. Eles precisam de um tempo maior para respirar. Em geral, devem ser decantados e o tempo varia conforme a complexidade e necessidade do vinho. Podem ser 20 minutos, 30 minutos, 1 hora, 12 horas e até 24 horas.
Dito isso, deguste sua taça do néctar dos deuses sempre lembrando da sábia citação do jornalista e escritor holandês Hubrecht Duijker: “A vida é muito curta para se beber vinhos ruins.”
Santé!