O passado que não quer calar
Um fantasma vivo, o publicitário Marcos Valério, e outro morto, o ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, volta e meia ressurgem para assombrar o PT.
Porém, pela primeira vez, por obra de uma explosiva matéria publicada na edição da revista Veja que está circulando neste fim de semana, ambos aparecem juntos para provocar novos espantos.
Condenado em 2013 a 37 anos de cadeia (o maior castigo imposto pelo Supremo Tribunal Federal aos réus envolvidos no processo), Valério era o operador do esquema de corrupção que ficou conhecido como escândalo do Mensalão, onde exercia a tarefa de fazer pagamentos a parlamentares em troca de apoio no Congresso ao governo do então recém-eleito presidente Lula.
Algum tempo depois, tentando reduzir a pena, ele fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, homologado pelo ex-ministro do STF, Celso de Mello, mas nunca efetivado na prática.
São alguns trechos inéditos desses relatos que agora a revista está trazendo à tona.
Em um de seus depoimentos mais bombásticos, o publicitário afirma que ouviu do então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, detalhes sobre o que seria a relação entre petistas e o Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal facção criminosa do país.
Segundo Valério, o empresário do ramo dos transportes Ronan Maria Pinto chantageava o então presidente Lula para não revelar o que supostamente seria uma bala de prata contra o partido: detalhes de como funcionava o esquema de arrecadação ilegal de recursos para financiar petistas.
Diz a reportagem da Veja que o então secretário-geral da sigla confidenciou ao delator que “Ronan ameaçava revelar que o PT recebia clandestinamente dinheiro de diversas empresas e até de bingos e que, neste último caso, os repasses financeiros ao partido seriam uma forma de lavar recursos do crime organizado. Valério é claro ao explicar a quem se referia ao mencionar, genericamente, crime organizado: o PCC.”
O publicitário também informou ter conhecimento que “o então prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002 em um crime envolto em mistérios, havia produzido um dossiê detalhando quem, dentro dos quadros petistas, estava sendo financiado de forma ilegal. O que Daniel não sabia, contou o delator aos investigadores, é que a arrecadação clandestina não beneficiava apenas a cúpula partidária: vereadores e deputados petistas que mantinham relações com o crime organizado estavam recebendo livremente dinheiro sujo.”
Conclui-se que o tal documento, que simplesmente evaporou, pode ter decretado a sentença de morte do prefeito.
É uma história, no mínimo, horripilante.
Mas o que assusta mesmo é saber que há dezenas de milhões de cidadãos dispostos a votar nesse tipo de gente para governar o Brasil.
Seriam cúmplices ou apenas parvos?